Medalha Ivens Dias Branco: José Dias de Macêdo é o primeiro homenageado com a comenda
O
pioneirismo e a trajetória de José Macêdo são recontados por Roberto
Macêdo, um dos oito filhos do camocinense de quase 100 anos
Os quase 80 anos de investimentos e de crença numa economia cearense possível marcam não só a memória do empresário José Dias de Macêdo. São cerca de oito décadas que narram, também, a vanguarda da economia brasileira. Prestes a completar 98 anos, no próximo dia 8 de agosto, José Macêdo, que intitula uma das mais consagradas empresas alimentícias do País, a J.Macêdo –, é o primeiro homenageado com a medalha Ivens Dias Branco. A comenda, a ser oficializada nesta quinta-feira (3), no Palácio da Abolição, reconhece empreendedores que contribuíram – e contribuem – com serviços que impulsionaram o desenvolvimento econômico no Estado.
“Eu demorei a responder porque senti uma felicidade muito grande. A lembrança que a equipe do Governo (do Ceará) teve, de encontrar nele a pessoa que seria homenageada com a primeira medalha...”, emociona-se Roberto Macêdo, 73, um dos oito filhos do “senador”– como se reporta ao pai –, ao recordar a ligação que o governador Camilo Santana lhe fizera para dar a notícia; e no tempo que levou para compreender a relevância da honraria. “Nessa mesma hora veio um filme da história dele. A gente fica confortável porque sente que ele merecia”, emenda.
Ex-suplente
de senador da República (1971-1987), tendo assumido a cadeira de
titular no último mandato, o também ex-deputado federal (1959-1971) José
Macêdo recebeu premiações de diversas ordens pelo desempenho importante
nas economias cearense e brasileira. Prêmio Tendência (Empresas Bloch),
Troféu Sereia de Ouro (Grupo Edson Queiroz) e Medalha da Abolição
(Governo do Ceará) estão entre as principais homenagens.
A
medalha Ivens Dias Branco, entretanto, segundo Roberto, possui uma
representatividade mais afetiva. “O Ivens era um grande amigo, admirado
por meu pai pelo seu trabalho, sua inteligência. Ele era nosso cliente
até construir o próprio moinho (de trigo). O Ivens era uma pessoa muito
leve; a gente sentia nele uma pessoa muito educada, gentil. Os dois
realmente se davam muito bem e se completavam, apesar de serem
concorrentes”, rememora o filho.
Na
condecoração, Roberto representará o pai. Ordens médicas indicam que
José Macêdo evite fortes emoções. Motivo pelo qual o empresário, também
economista, não participou desta entrevista.
Pioneirismo
Em
1952, após experiências comerciais nos Estados Unidos, José Macêdo
conseguiu licença para a importação de farinha de trigo no Ceará. Dois
anos depois, o camocinense, juntamente com os irmãos, decidiu abrir a
própria indústria, no Moinho de Trigo Fortaleza, com produção
independente de farinha. Local onde, hoje, encontra-se a fábrica Dona
Benta, uma das marcas mais consistentes do grupo J.Macêdo, que também
apresenta as assinaturas Sol, Petybon, Brandini, entre outras. Líder de
mercado no segmento, Dona Benta foi a primeira a vender farinha de trigo
em embalagens transparentes e a que fez a primeira farinha fermentada
no País.
Na década de 1970, os negócios se ampliaram e mais moinhos foram adquiridos, principalmente em Alagoas e Bahia. O período foi de consolidação do grupo J.Macêdo, que entrou de vez no mercado de massas e biscoitos. E não parou por aí.
“Meu
pai foi sempre uma pessoa que procurou ser pioneira no que fazia. Esse
pioneirismo está representado na inauguração do primeiro moinho de trigo
no Ceará, depois veio a primeira fábrica de transformadores, depois a
fábrica de tintas (usando matéria-prima daqui, o calcário arenítico),
primeiro frigorífico industrial, primeira cervejaria (Astra), primeira
fábrica de pneus genuinamente brasileira”, enumera, com ar de orgulho, o
ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec -
2006 a 2010).
Antes
disso, em 1947, José Macêdo já figurava como investidor econômico em
potencial no Estado. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o
empresário tornou-se representante da marca norte-americana Jeep. “Como
as pessoas não sabiam dirigir, ele também montou a primeira autoescola.
Ele sempre foi uma pessoa muito criativa”, reconhece Roberto.
O
histórico de êxito da empresa, analisa o filho, continuador do
empreendedorismo familiar, só foi possível porque o pai “sempre procurou
investir na capacitação dos servidores”. A empresa foi a primeira no
Estado a realizar pagamento de 13º salário antes do benefício ser legal.
Hoje, mais de três mil funcionários são empregados pelo grupo, que
oferta academias para promover educação e cultura para os colaboradores.
“A inovação e a formação de profissionais sempre foi uma das regras na
cabeça do meu pai. Tudo isso faz parte de uma visão permanente, com olho
no futuro”, alonga-se. E lembra: “Uma vez perguntaram a ele qual era o
segredo do sucesso. Ele, prontamente, respondeu: ‘Sempre procurei me
cercar de pessoas melhores do que eu’”.
Medalha Ivens Dias Branco
A
medalha Ivens Dias Brancos foi instituída no âmbito do Poder Executivo
em agosto de 2016. Concedida anualmente, com comenda única, a medalha
tem por finalidade agraciar "os que tenham tornado merecedores do
reconhecimento do Poder Executivo em razões de ações, feitos ou outras
iniciativas em prol do desenvolvimento econômico do Estado do Ceará",
como descreve a publicação no Diário Oficial do Estado. A escolha do
agraciado se dá através de lista de indicados representativa das câmaras
setoriais que representam as cadeias produtivas do Estado, enviada ao
Executivo pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece).
Ivens
Dias Branco (1934-2016) foi um dos mais bem sucedidos empresários do
Ceará. Iniciou sua vida profissional em 1953, trabalhando ao lado de seu
pai, Manuel Dias Branco, na Padaria Imperial, um pequeno negócio da
família. Com determinação, logo a transformou no que hoje é a M. Dias
Branco, uma das empresas mais renomadas na fabricação de massas e
biscoitos em escala industrial do Brasil. Atualmente, o grupo tem 12
fábricas e 29 filiais comerciais espalhadas pelo País. O empresário
morreu em 2016 por complicações cardíacas.
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