Bom dia


Dy, 20 anos depois
Estava numa festa de aniversário num parque em Brejo Santo, no extremo sul do Ceará. Todos comemoravam o aniversário do querido e saudoso deputado Welington Landim. Era já madrugada do dia 31 de agosto de 1997. O cantor Fágner iniciava seu show com a plateia entusiasmada. Bezerrinha, o editor Francisco Bezerra havia ficado no hotel, descansando um pouco antes de ir pra festa. O dia havia sido intenso. Muito intenso. De repente põe a mão no meu ombro e sem uma curva foi direto ao assunto: Macário a Ladi Dy morreu. Olhos arregalados mirei Bezerrinha.

- Diabos de uisque foi esse que cê bebeu meu irmão? questionei o companheiro.
- Vai ver. Está passando em edição extra da Globo. Saí agora do hotel. Tá lá.
Consegui um carro, com um motorista que não gostou nada de perder um pedaço do show do Fágner e fui ao hotel. Era verdade. Havia no ar, ao vivo, uma edição extra. Dy era dada como morta numacidente em Paris, num tunel que eu conhecia bastante.
Sob os efeitos da bomba, voltei à festa, sem festa na alma. Pedi a Landim um carro que me levasse "agora" pra Fortaleza. Via Juazeiro do Norte.

Esperei pelo voo de muito cedo de Juazeiro para Fortaleza. Arrumei mala curta, de uma semana. Peguei o primeiro voo pro Rio e de lá, as dez da noite, iniciei um voo para Londres. Nem tudo foi angustia durante o voo. Como só havia lugar na primeira classe do avião da companhia inglesa, fui de primeira tendo ao lado, chocada, angustiada, chorando, sofrida, a embaixatriz Lucia Flexa de Lima, amiga íntima de Dy e mulher do embaixador Flexa de Lima.

Lado a lado foi impossivel não puxar conversa sobre o assunto. Lucia ia dar colo aos sonhos da amiga, eu, cobrir um evento que abalava o mundo. Muito do que escrevi, à época, vinha de informações de Lucia Flexa de Lima que morreu em abril deste ano. Foi uma viagem tensa. Uma estada tensa. Um retorno tenso, cansado, sofrido. Aquela mulher que mudara a realeza inglesa, havia mudado meus olhos para a familia real da Inglaterra, para a crueza da vida e, como cantou Elton Jhon na missa de corpo presente era Dy uma Vela ao Vento. Candle in the wind.

Voltei por Paris. Lá estavam milhares de mensagens. Milhares de flores. Mais até que no Palácio da realeza britanica, mesmo que ela não fosse mais da realeza.A Rainha, a dois passos de mim passou pelas flores, olhando os súditos sem uma lágrima, um ruga no cenho. Nesses vinte anos que hoje se completam, fui tantas vezes a Paris, mas tantas vezes fui,não deixei de levar flores a Dy.

Registre-se, entretamto,que há uma teoria de que todas as solenidades das exéquias até o enterro de Dy, incluindo o cortejo pelos 13 quilometros das ruas de Londres,foram uma grande mentira. Dy teria sido cremada e suas cinzas depositadas no tumulo dos Spencer, a famillia dela. Há apostas de que é a verdade e que o desfile, e o enterro dia 6 de setembro foram pura mentira.


Eu recordo tudo aquilo, hoje, 20 anos depois. Ossos e caminhos do ofício de um repórter.

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