Opinião

Moro tornou contrangedora manobra pró-Temer

Josias de Souza


Pelo menos dois operadores políticos de Michel Temer soltaram fogos ao saber que Sergio Moro condenara Lula a 9 anos e 6 meses de cadeia. “O Michel saiu do foco”, disse um deles ao blog. Engano. Estrategista, o juiz da Lava Jato escolheu a data da divulgação da sentença com precisão cirúrgica. A novidade tornou ainda mais constrangedor o funeral que o Planalto realiza na Câmara para enterrar vivo o escândalo que fez de Temer um presidente denunciado por corrupção.
Moro anotou num trecho da sua sentença que a condenação de Lula não lhe trouxe “satisfação pessoal”. E realçou: “É de todo lamentável que um ex-presidente da República seja condenado criminalmente, mas a causa disso são os crimes por ele praticados e a culpa não é da regular aplicação da lei. Prevalece, enfim, o ditado 'não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você'…” Noutro ponto, Moro escreveu: ''A responsabilidade de um presidente da República é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes.”
No caso de Temer, a Câmara discute duas coisas: a acusação de que o presidente praticou corrupção passiva e o abafamento do escândalo. O que o Planalto exige dos seus aliados é que finjam que nada aconteceu. Cria-se uma atmosfera de faz-de-conta que transforma a Câmara num tipo especial de cúmplice, que tem o poder de obstruir a Justiça, sonegando ao Supremo Tribunal Federal a oportunidade de analisar a denúncia.
A manobra pode protelar o veredicto.  Mas o que a decisão de Moro sinaliza é que a sentença, cedo ou tarde, virá. De resto, ficou mais difícil presumir que a plateia é feita de bobos.

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