PALAVRÕES AO VENTO
Coluna Carlos Brickmann
______________________
(Edição dos jornais de Domingo, 4 de junho de 2017)
-------------------------------------------------------------------------------
Um
político que está no poder faz tanto tempo sabe das coisas. E foi o
senador Romero Jucá (PMDB-Roraima), que deu o nome à festa: suruba. É
suruba, mas também pode chamar de troca-troca. Todos com todos, todos
amigos. Afinal, as turmas de Dilma e Temer são as mesmas.
Na
terça, entra em julgamento a chapa Dilma-Temer, por abuso de poder na
campanha presidencial. Dilma e Temer são adversários. Mas, se a Justiça
cassar a chapa, é ruim para Dilma (impedida de sair para o Senado em
2018); para Temer, que perde o mandato; para o PSDB, que fez a denúncia,
porque Aécio depende dos dois para salvar-se das delações. Uma mão lava
a outra, as duas lavam a cara e cada uma pega o que pode.
A
Comissão de Ética da Presidência livrou o petista Aloízio Mercadante da
acusação de tentar impedir a delação de Delcídio do Amaral.
Rede e PSOL pediram a cassação de Aécio. O PT não assinou o pedido.
Temer
e Lula, delatados por Joesley do JBS, defendem-se da mesma maneira,
desacreditando a investigação e acusando o delator. Para Lula, a Lava
Jato "é uma palhaçada" e Joesley é "canalha" e "bandido". Temer chama
Joesley de "o menino, o grampeador". E, sobre uma possível delação de
seu amigo Rocha Loures, diz que só crê numa hipótese: "Nunca posso
prever se ele tiver um problema maior, e as pessoas disserem para ele:
'olha, você terá as vantagens tais e tais se disser isso e aquilo'".
Jogo duro
Ambos
dizem, com palavras diferentes, que a delação ganharia valor (e os
benefício da Joesley e seu irmão Wesley seriam prova disso) se fossem
eles os delatados. Sem as acusações contra eles, teriam tantos
benefícios?
Fala a defesa
O
respeitado advogado José Roberto Batocchio, que defende Lula e Dirceu,
vem há tempos criticando (muito antes da Lava Jato) o instituto da
delação premiada. Batocchio sustenta a tese de que a delação premiada
abre caminho para a "delação a la carte": o acusado não precisa
contar a verdade inteira, mas apenas a parte que interessa à acusação,
para obter os benefícios oferecidos - como a liberdade, apesar dos
crimes cometidos.
Voto...
A
decisão do Tribunal Superior Eleitoral deve ser apertada, para um lado
ou outro. PT e Temer jogam juntos - primeiro, na possibilidade de um dos
ministros pedir vistas do processo por 30 dias, o que, graças às
peculiaridades do sistema jurídico nacional, fará com que o julgamento
demore tanto que o mandato de Temer já esteja encerrado, ou se
encerrando (e, ao mesmo tempo, que a possível candidatura de Dilma ao
Senado, pelo Rio Grande do Sul, já esteja consolidada). E 30 dias são
apenas o começo: frequentemente algum ministro demora mais tempo com o
processo em suas mãos - prazo que pode ultrapassar um ano.
...a voto
Se
nenhum ministro pedir vistas, há um pedido do PT que pode mexer na
votação: o pedido para que as delações da Odebrecht e dos marqueteiros
João Santana e Mônica Moura sejam retirados do processo, que deve
limitar-se à denúncia formulada pelo PSDB no final de 2014. Esta é uma
questão que os ministros devem decidir antes de iniciar o julgamento. Se
a tese for aceita, o relator Herman Benjamin terá de retirar de seu
voto tudo o que se refira à delação - que deve ser a parte mais
contundente. Dilma é a mais beneficiada, porque a delação dos
marqueteiros não atinge Temer. Mas a da Odebrecht atinge. De qualquer
forma, para Temer é boa qualquer solução que adie e tumultue o processo,
o que o beneficiará indiretamente.
Chegando junto
E
se o Tribunal Superior Eleitoral decidir cassar a chapa Dilma-Temer,
levando a novas eleições (indiretas) para a Presidência? Existe um grupo
de trabalho cuidando disso na Câmara Federal: Orlando Silva, do PCdoB,
que foi ministro de Lula, Andrés Sanchez, do PT, ex-presidente do
Corinthians, e Vicente Cândido, do PT, representam a esquerda na
negociação com Rodrigo Maia, presidente da Câmara, do DEM fluminense. O
objetivo é colocar Maia na Presidência da República, tendo Aldo Rebelo,
do PCdoB, ex-ministro de Lula, como vice. DEM, PT e PCdoB - hoje, tudo a
ver.
Diretas, mas não já
O
PT faz campanha pela convocação de eleições diretas, caso Temer seja
afastado? Faz, no grande palco público, e desfaz no mundo real. Fora a
negociação com o DEM, fora a luta para adiar o voto do TSE que poderia
derrubar Temer, há uma atitude simbólica de grande efeito: mudou as
normas internas do partido, trocando a eleição direta por indireta para
presidente da sigla. Isso leva ao comando do PT a senadora Gleisi
Hoffmann, do Paraná, que foi ministra de Dilma e é investigada, com
autorização do Supremo, por desvio de recursos da Petrobras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário