Engraçada vida engraçada
Amanhã, 5 de junho, faz 50 anos do
lançamento de Cem Anos de solidão, o fantástico livro de Gabriel Garcia
Marques.Uma lembrança me toma uma lágrima de saudade que nem sei se é de
mim mesmo, ou do tempo que vivo. Um dia, em Buenos Aires, saí cedo da
cama do hotel e fiquei à porta olhando a manhã. Um cafezinho depois, vi o
presidente José Sarney, a quem acompanhara numa importante reunião para
criação do Mercosul se esgueirar sem segurança e descer pra rua.
Acompanhei-o à distancia até a Calle Florida, caminho dos apaixonados
por livros. Sarney entrou numa livraria como queria, em anonimato. Fui
junto me fazendo de surpreso ao ve-lo e ser visto. Não passei recibo nem
o importunei. O Presidente do Brasil buliu daqui pralí até chegar à
gondola onde estava o tal Cem Anos de Solidão, edição em espanhol, porque
ainda não havia nenhuma tradução para lingua alguma. Sarney pegou dois,
conversou um pouco e saiu. Eu fiquei. Havia uma edição de luxo, em
papel bíblia. Comprei um exemplar desses e outro, normal. O normal era
para mim o outro trouxe de presente para o Governador Gonzaga Mota.
Quase cinquenta anos se foram. Gabo virou Nobel. Sarney é bruxo, Gonzaga Mota
ex-Governador e eu, toco essa vidinha engraçada; engraçada vida
engraçada.
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