O romance do Nordeste
Não
houve no Nordeste brasileiro o romance modernista, mas sim o ciclo
pré-modernista e o pós-modernista. O primeiro, de Franklin Távora e
Domingos Olympio, colocava em plano secundário os elementos sociais e na
fase principal da cena, de forma invulgar, a chamada ação episódica. No
segundo, com destaque, entre outros, para a incomparável
Rachel de Queiroz e para José Américo de Almeida, os elementos sociais
superam a ação episódica, traduzindo com rigor o documentário. Mas, ao
fechar-se o segundo ciclo, Graciliano Ramos abre a terceira fase:
acrescenta ao documentário, sem anular a irradiação social, as
indagações psicológicas. Por trás das obras dos autores mencionados,
existem componentes políticos, econômicos e religiosos compatíveis com
os momentos em que foram escritas. A literatura nordestina, com certeza,
é a que apresenta com maior realismo as características de um povo que
mata e reza para não morrer. A visão do intelectual, além de ser
abrangente, é caracterizada por conter, na maioria das vezes,
sentimentos sociais, diferentemente daquilo que pensam muitos
tecnocratas. A produção literária do Nordeste precisa ser levada em
consideração pelos formuladores de politicas econômicas globais. Talvez
seja mais importante a leitura de "O Quinze", "A Bagaceira", "Vidas
Secas" e tantos outros livros do que de compêndios estrangeiros de
economia politica, mesmo de alguns mestres famosos, como Friedman,
Samuelson, etc. É importante a conexão entre a realidade cultural e o
desenvolvimento. O Nordeste tem suas peculiaridades e também suas
vantagens comparativas que precisamos transformá-las em vantagens
competitivas.
Gonzaga Mota
Professor aposentado da UFC
Ex Governador do Ceará e meu amigo
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