Valha-me Deus!

Hacker ameaçou jogar nome de Temer 'na lama' com divulgação de áudio


Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 09-02-2017, 12h00: A primeira dama Marcela Temer recebe as primeiras damas dos estados para falar sobre o programa do governo Criança Feliz, no Palácio da Alvorada. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
A primeira-dama Marcela Temer, que teve celular clonado em 2016

Um áudio usado por um hacker para tentar extorquir dinheiro da primeira-dama, Marcela Temer, em abril do ano passado, jogaria o nome do então vice-presidente, Michel Temer, "na lama", segundo ameaça do criminoso.
O áudio, furtado de um celular de Marcela clonado pelo hacker Silvonei de Jesus Souza, era uma mensagem de voz de WhatsApp enviada originalmente por ela ao irmão, Karlo Augusto Araújo.
Todo o conteúdo de um celular e contas de e-mail de Marcela foram furtados por Souza.
"Pois bem como achei que esse video [na verdade, áudio] joga o nome de vosso marido [Temer] na lama. Quando você disse q ele tem um marqueteiro q faz a parte baixo nível... pensei em ganhar algum com isso!!!!", escreveu o hacker a Marcela, pedindo-lhe R$ 300 mil para não divulgar o arquivo.
Editoria de Arte/Folhapress
Reprodução do diálogo entre hacker e Marcela Temer em abril de 2016
Reprodução do diálogo entre hacker e Marcela Temer em abril de 2016
A Folha apurou que o "marqueteiro" a que o hacker se refere é Arlon Viana, assessor de Temer, citado na conversa entre a primeira-dama e o irmão.
O hacker foi condenado em outubro a 5 anos e 10 meses de prisão por estelionato e extorsão e cumpre pena em Tremembé (SP).
"Tenho uma lista de repórteres que oferecem [R$] 100 mil cada pelo material", continuou o criminoso, em mensagem enviada a Marcela. As mensagens de texto entre o hacker e Marcela constam do processo contra ele, que teve o sigilo levantado recentemente.
"Você acha que isso prejudicaria alguém? Então, você quer dinheiro por causa desse áudio?", respondeu a primeira-dama, acrescentando ser "do bem" e que o áudio era "montagem".
O hacker responde: "Sabe q não é montagem, não tem cortes. É a sua voz se identificando que estudava no Porfírio. Não existe como fazer montagem assim", replicou o criminoso. Escola Estadual General Porfírio da Paz é o nome de onde Marcela estudou na infância, em Paulínia (SP).
O episódio do hacker foi amplamente noticiado, mas com foco na chantagem para que não fossem divulgadas fotos familiares de Marcela, que também estavam no celular clonado.
No processo sobre a extorsão, as fotos são mencionadas por Marcela em depoimento, mas a atenção maior é destinada ao áudio, objeto das ameaças. À polícia, a primeira-dama afirmou que se tratava de um áudio sobre "coisas corriqueiras da cidade [Paulínia]".
Karlo Augusto, como é conhecido em Paulínia, preparava sua candidatura a vereador pelo PSDC, mas depois do episódio, desistiu.
Nenhum arquivo furtado do celular integra os autos. Segundo a Folha apurou, o áudio foi ouvido por poucas pessoas ligadas diretamente à investigação e não chegou a dar entrada no Instituto de Criminalística, que realiza as perícias.
O caso foi tratado com muita discrição pelas autoridades paulistas. A pedido de Temer e Marcela, seus nomes foram trocados nos registros por "Tango" e "Mike", respectivamente.
O irmão da primeira-dama virou "Kilo". O expediente é comum em casos que requerem proteção às vítimas.
Sob o comando do então secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, hoje ministro da Justiça licenciado e indicado por Temer a uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), a Polícia Civil paulista criou uma força-tarefa com cinco delegados, 25 investigadores e três peritos para prender o hacker.
FORA DE CONTEXTO
Em resposta a questionamento da Folha, a assessoria da Presidência disse que a frase reproduzida pelo hacker em que fala sobre jogar "na lama" o nome de Temer está "fora de contexto, misturando assuntos e referências para fins de chantagem e extorsão".
Segundo a assessoria, a primeira dama "não fará comentários sobre esse conteúdo, que já foi usado para fins criminosos e gerou condenação na esfera judicial".
A assessoria diz "que a lei Carolina Dieckmann preserva os direitos de privacidade das pessoas que tenham seu sigilo violado no meio digital".
(REYNALDO TUROLLO JR., THAIS ARBEX, ROGERIO PAGNAN, CAMILA MATTOSO E MARINA DIAS)

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