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'Washington Post': Brasil se inclina à direita, e aguarda líder como Trump

Temer nomeou um gabinete de homens e rapidamente adotou uma agenda conservadora

O jornal norte-americano The Washington Post traz em sua edição desta segunda-feira (6) um artigo sobre o cenário político do Brasil, onde tudo indica uma forte inclinação ao conservadorismo, após 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores, de esquerda.
Em seu texto, Nick Miroff aponta que em um grande país multiétnico construído por imigrantes e escravos, um líder branco, do sexo masculino e septuagenário está formando uma reação direitista depois de uma era de governo esquerdista. Sua esposa, muito mais nova é um modelo da mulher de antigamente. Seu sobrenome de cinco letras começa com um "T" - mas é Temer, não Trump. O presidente brasileiro, Michel Temer, assumiu o poder há cinco meses, após o impeachment e a humilhação política da primeira líder feminina do país, Dilma Rousseff. Temer nomeou um gabinete de homens e rapidamente adotou uma agenda de direita e reguladora.
O autor destaca que o presidente do Brasil, um político de carreira com 76 anos, não é uma versão brasileira de Trump, pois não tem o toque populista ou o estilo de showman de seu homólogo americano.
> > Washington Post  Brazil swings to the right, setting the stage for a Trumplike leader
Miroff diz que, no entanto, como os Estados Unidos, o Brasil é um país grande cujo centro político tem se dirigido abruptamente para a direita. A próxima eleição presidencial será até 2018, mas em competições municipais realizadas em outubro, o Partido dos Trabalhadores, uma vez dominante,perdeu 60% dos cargos governamentais que controlava. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e o mais conservador Partido Social Democrata Brasileiro (PSDB) agora tomam a liderança dos distritos mais importantes do país.
Os resultados foram o sinal mais claro de uma "mudança de mentalidade" no país, de acordo com o analista político Lucas de Aragão, da consultoria Arko, com sede em Brasília.
Reportagem diz que impeachment de Dilma Rousseff parece o fim de uma era no Brasil
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"É um sentimento anti-status-quo, assim como Brexit e Trump", disse Aragão, "mas não acho que seja ideologia, mas sim falta de resultados".
O autor lembra que Dilma Rousseff foi acusada de violar regras orçamentárias, não de corrupção pessoal. Mas ela e o Partido dos Trabalhadores levaram a maior parte da culpa pela pior crise econômica do Brasil desde a década de 1930, em conjunto com o maior escândalo de corrupção na história do país.
Temer, que é casado com uma modelo de 33 anos de idade, é um especialista em direito constitucional que fala com cuidado e envia tweets comedidamente. Seu ar formal pode estar prejudicando sua imagem em um momento em que os brasileiros estão procurando alguém que não fala como um professor, avalia o texto do Post. E com quase todo o stablishment político do Brasil sob suspeita de transações obscuras, a retidão de Temer pode parecer um tanto sombria.
Uma vez no poder, Temer abraçou a direita do Brasil, mas a direita não o abraçou. Suas avaliações de aprovação pairam em torno de 14 por cento, aproximadamente como Dilma antes de seu impeachment.
O diário americano ressalta que mais de metade do país vê Temer como desonesto, de acordo com uma pesquisa realizada em dezembro pela Datafolha e seus baixos índices de aprovação são um sinal de que ele não se beneficiou dos ventos políticos que estão mudando o Brasil.
"Ele dá a impressão de um político muito tradicional, que raramente é visto nas ruas", disse Mauro Paulino, diretor da Datafolha.
Grande parte da elite política e empresarial do Brasil, incluindo Temer, está sendo investigado pela operação de chamada de lava jato, que descobriu US$ 2 bilhões em subornos ilegais nos últimos três anos. O ex-presidente da Câmara de Deputados foi preso, juntamente com alguns dos mais poderosos executivos do país, conta Nick Mirrof.
De acordo com um testemunho vazado de negociações, um ex-executivo de construção acusou Temer de solicitar quase US$ 3 milhões para fundos de campanhas. Temer não foi acusado, e ele repetidamente insistiu que apóia a investigação e não tem nada a esconder. Depois que o juiz da Suprema Corte que supervisionava a lava jato morreu em um acidente de avião no mês passado, Temer disse que esperaria para nomear um substituto até que os colegas do juiz - não ele - pudessem decidir quem assumiria o caso, observa o noticiário.
Pode ser muito tarde para Temer recuperar sua credibilidade. Com menos de dois anos para terminar seu mandato, o Brasil parece estar à espera de que o seu Trump apareça. Populistas de fora, como o novo prefeito de São Paulo, um magnata que estrelou a versão brasileira do "Celebrity Apprentice", são freqüentemente mencionados entre os primeiros favoritos para 2018, avalia Nick.
O que muitos brasileiros e legisladores brasileiros abraçaram é a agenda de austeridade de direita de Temer. Ele ganhou aprovação no Congresso por um congelamento de 20 anos sobre gastos sociais e sua recusa em socorrer os governos estaduais que derrubaram seus orçamentos. Ele facilitou as restrições às companhias de petróleo estrangeiras que pretendem perfurar por lucrativos depósitos offshore, e espera-se que apresente uma nova legislação para abrir o agronegócio brasileiro e a indústria aérea para grupos estrangeiros.
Embora Temer tenha contido a crise econômica, a taxa de desemprego do país permanece em dois dígitos e o crescimento para 2017 é projetado para ser apenas de 1 por cento.
"As pessoas não estão consumindo, porque têm medo de perder seus empregos", disse Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil no Woodrow Wils No Centro em Washington.
"O trabalho de Temer é acalmar as pessoas, tomar medidas que são eficazes e colocar o Brasil de volta em um padrão de crescimento sustentável", disse Sotero.
"Provavelmente é demais para seu governo conseguir isto até 2018, mas ele pode começar a trabalhar nisso."
Ao contrário de Trump, Temer não está muito preocupado com sua popularidade, dizem os analistas. Ele insiste que não será candidato em 2018.
"A falta de representação feminina suficiente em seu governo parece um grande retrocesso", disse Rosiska Darcy, uma escritora feminista e crítica política.

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