Começou o contraponto?

"O que Moro fez com Dona Marisa é indescritível", disse o embaixador Pinheiro Guimarães

Jornal argentino Página 12 entrevistou diplomata brasileiro

O jornal argentino Página 12 traz em sua edição desta quarta-feira (15) uma entrevista com o embaixador Pinheiro Guimarães. Ele participou da missa do sétimo dia em memória de Dona Marisa Letícia, a esposa do ex-presidente Lula que morreu por causa de um acidente vascular cerebral que o PT atribui a angústia causada pelos processos judiciais apresentados pelo juiz Sergio Moro, responsável pela operação Lava Jato.
Página 12 afirma que Pinheiro Guimarães está indignado: "O que ele fez com Dona Marisa Moro é indescritível. Ele processou uma mulher irrepreensível sem evidência para alegações de corrupção. Quando nos referimos a Moro não podemos esquecer que estamos falando de um membro do Judiciário que foi treinado no Departamento de Estado, que viaja constantemente para a América. Moro sabe como ganhar a aprovação de Washington".
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"Eu realmente não sei se este governo que emergiu do golpe contra a presidente Dilma tem a dimensão completa do que é uma política externa", disse o diplomata em entrevista ao Página12
"Eu realmente não sei se este governo que emergiu do golpe contra a presidente Dilma tem a dimensão completa do que é uma política externa", disse o diplomata em entrevista ao Página12
O diário informa que ele foi secretário-geral do Itamaraty e ministro de assuntos estratégicos, antes de ser escolhido como Alto Representante do Mercosul, cujo novo formato, agora sem a Venezuela e abertura para o mercado global como um dogma ideológico, foi apresentado por Michel Temer e Mauricio Macri, em Brasília.
P. Será que a cúpula presidencial da semana passada busca restaurar o modelo de integração de Fernando Henrique Cardoso e Carlos Menem?
R. Eu realmente não sei se este governo que emergiu do golpe contra a presidente Dilma tem a dimensão completa do que é uma política externa. Acho que eles são improvisados, começando com Temer e seguido por seu ministro das Relações Exteriores Sr. (José) Serra.
Os países mais importantes do Mercosul estão comprometidos com a abertura econômica para os Estados Unidos e as potências, apagando os ganhos desses últimos anos, ele conseguiu conter a tentativa de impor a Alca, que foi rejeitada na Cúpula das Américas 2005 em Mar del Plata.
Agora parece que queremos voltar os anos 90, a última década neoliberal. Tenha em mente que o Mercosul nasceu no calor do Consenso de Washington, em 1991, com a assinatura de Fernando Collor de Mello e Carlos Menem, acompanhado por Luis Lacalle (Uruguai) e Andres Rodriguez (Paraguai), que eram os signatários do Tratado Assunção.
Para Cardoso e Menem, o Mercosul foi o início de um caminho para a criação de um mercado plenamente aberto, o que é um pouco contraditório: se a integração é ter uma tarifa externa comum, que limita a entrada de produtos de terceiros mercados, como os EUA. Temo que agora os governos conservadores do Brasil e da Argentina tentam remover a Tarifa Externa Comum, eu não sei se será possível, porque isso irá aumentar a oposição dos industriais.
P.O Risco Donald Trump rondou a reunião presidencial, obviamente por ser um fato que preocupa Brasília e Buenos Aires.
R. Trump é sim uma grande questão que eu ainda não decifrei, mas sem dúvida afetará dois governos que apostavam que ele não seria o vencedor nas eleições norte-americanas. Eu não poderia dizer que Trump é uma ameaça para a paz mundial maior que Hillary Clinton.
Os Estados Unidos são um império, não pode ser analisado como um país, mas como um império como era nas relações britânicas ou romanas, e impérios não são democráticos.
P. Você mencionou a relação de Moro com Washington, você pode dar mais detalhes?
R. Os jornais contam que o juiz Sergio Moro está viajando com uma frequência impressionante para os EUA, inclusive decidiu tirar um ano sabático na causa Lava Jato para estudar lá. Estudar? (Risos). O juiz está nos dizendo que depois de ter condenado Lula, até mesmo sem provas, deve deixar o país por um tempo, porque sua missão falha e absolutamente política estará concluída. Se não é política, por que só persegue líderes do PT e olha para o outro lado quando se trata de comprovada corrupção pertencente a outro partido? Porque seu objetivo é destruir Lula. Hostiliza lo de forma legal e emocionalmente humilhante sua falecida esposa, violando inclusive sua casa... Estas atitudes são claramente ilegais, mas são recebidas com a aprovação pelas elites locais e com simpatia pela embaixada norte-americana.
Tolerar e admitir que Lula é um candidato a presidência em 2018 é algo inconcebível para Moro e ele fará de tudo para impedir, mas a verdade é que cada vez mais, eu acho que Lula vai ganhar e Moro não pode prende-lo.

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