Articuladores do impeachment são responsáveis pela atual indignidade
Pedro Ladeira/Folhapress | ||
Iniciada por Romero Jucá, sucessão de demissões de ministros no governo de Michel Temer é recorde |
A
combinação de pessoas e ineficácias a que chamamos de governo Temer tem
uma particularidade. Nos tortuosos 117 anos de República e ditaduras no
Brasil, jamais houve um governo forçado a tantas quedas
de integrantes seus em tão pouco tempo, por motivos éticos e morais,
quanto nos oito meses de Presidência entregue a Michel Temer e seu
grupo.
Entre Romero Jucá, que em 12 dias estava inviabilizado como ministro, e o brutamontes Bruno Julio,
que, instalado na Presidência, propôs mais degolas de presos, a dúzia
de ministros e secretários forçados a sair é mais numerosa do que os
meses de Temer no Planalto.
Foi
para isso que o PSDB, o PMDB, a Fiesp, o jurista Miguel Reale e o
ex-promotor Hélio Bicudo, a direita marchadora e tantos meios de
comunicação quiseram o impeachment de uma presidente de reconhecida
honestidade?
Sim.
À vista da ausência, nem se diga de reação, mas de qualquer preocupação
entre os autores do impeachment, a resposta só pode ser afirmativa. Até
antecipada pelo descaso, também ético e moral, dos aécios, da Fiesp, de
reales e bicudos. Estes também são partes do governo Temer, como o
PSDB, ou seus associados. Logo, tão responsáveis pela indignidade
dominante quanto o próprio Temer.
O Geddel que começa a estrelar mais uma peça da ordinarice
foi expelido do governo em tempo de evitar que as novas revelações
explodissem em uma sala do Planalto. Mas é inesquecível que até poucas
semanas Geddel disputava com Eliseu Padilha o comando de fato do
governo. Instalado no centro da Presidência por desejo do próprio Temer,
que fez o possível para inocentá-lo do favorecimento ilegal a um
negócio imobiliário.
Não
havendo petistas nem próximos de Lula envolvíveis, a Polícia Federal
não se interessou. Se o novo escândalo chegar ao negócio que derrubou
Geddel, porém, a PF verá que antes de uma frustração pode haver muitos
lances bem sucedidos. Apesar de nada admiráveis.
Mais
sugestiva do que a inclusão de Geddel no Planalto é sua nomeação para a
diretoria da Caixa Econômica: foi escolha pessoal, o que vale como
pedido, do então vice-presidente à presidente. E não qualquer diretoria,
não. A de negócios com pessoas jurídicas. Empresas, empresários,
projetos privados, sociedades de particulares com governos.
Michel
Temer fez mesmo o serviço completo: como outra escolha pessoal,
conectada ao PMDB, indicou também para a direção da Caixa ninguém menos
do que Moreira Franco.
O
que daí resultaria era tão óbvio que aqui mesmo, e logo, se pressentiu.
Com a mesma obviedade, o que seria a entrega do governo a Michel Temer e
seu grupo não ficou impressentido pela cúpula do PSDB, pelos reales e
bicudos do impeachment. Tão responsáveis, hoje, quanto Michel Temer.
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