Barbas de molho. As do vizinho estão ardendo.

Após ataques, Natal tem ruas vazias e pedestres sem transporte público


Frankie Marcone/Futura Press/Folhapress
Ônibus incendiado em rua de Natal no mesmo dia de transferência de presos amotinados há cinco dias
Ônibus incendiado em rua de Natal no mesmo dia de transferência de presos amotinados há cinco dias
Uma série de ataques a ônibus e delegacias assustou os moradores de Natal nesta quarta-feira (18). Ao anoitecer, as ruas ficaram vazias de pedestres e o tráfego de veículos, bem abaixo do normal, já que muitas pessoas foram para casa mais cedo.
Ao todo, foram registrados 15 ônibus incendiados e tiros disparados contra duas delegacias. Segundo a Secretaria de Segurança Pública os ataques estão sendo apurados, mas há indícios de que tenham sido ordenados por membros da facção Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte.
A ação seria uma represália contra a transferência de 220 membros da facção do presídio de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal (RN). As remoções começaram nesta quarta, após o Batalhão de Choque entrar na unidade e encerrar a rebelião que já durava cinco dias e deixou 26 detentos mortos.
Com os ataques, a frota de ônibus da cidade foi recolhida. Sem opção, as poucas pessoas na rua acabavam optando por voltar para casa com táxis, que foram autorizados a fazer lotação. O taxista Ademir Silva, 62, disse que os natalenses não tinham alternativa de locomoção desde o fim da tarde.
A funcionária pública Gilvani Oliveira, 32, no entanto, aguardava no ponto de ônibus na frente de um shopping, ainda com esperança da chegada do coletivo.
"Estávamos aproveitando a noite para fazer algumas compras quando fomos surpreendidos com a notícia de que os transportes estavam sendo recolhidos. Estou esperando há quase meia hora e até agora nada", disse acompanhada do filho de 12 anos.
Ao ser questionada se temia alguma ação criminosa, ela disse que preferia confiar na polícia. "Espero que consigam controlar a situação", completou.
Segundo capitão Fabio Sandrine, supervisor das operações da PM na Grande Natal, mais de 80 policiais estarão atuando na cidade durante a madrugada.
Em Ponta Negra, na zona sul da cidade, o calçadão estava praticamente vazio, embora nos restaurantes e bares da região o movimento fosse considerado normal pelos empresários.
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TRANSFERÊNCIAS
O governo do Rio Grande do Norte iniciou por volta das 19h30 (horário de Brasília) a transferência de presos de Alcaçuz após a entrada do Batalhão de Choque da cadeia. Um protesto de mulheres dos detentos tentou impedir a passagem dos veículos com barricada de fogo. Policiais deram tiros de advertência para dispersar o grupo.
Ao todo, 220 detentos apontados como membros da facção Sindicato do Crime estão sendo levados para o presídio estadual de Parnamirim.
Para permitir a transferência, o governo do Estado removeu 220 presos que estavam no presídio de Parnamirim, para Alcaçuz (100) e para a cadeira pública Raimundo Nonato (120). Todas as transferências deverão ser concluídas ainda nesta quarta-feira.
Os problemas na unidade começaram no último sábado (14), quando um confronto entre o PCC e o Sindicato deixou ao menos 26 mortos. Na segunda (16), o presídio voltou a ficar fora de controle, situação que permanecia até a tarde desta quarta.
GOVERNADOR
Já no fim da noite desta quarta o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), divulgou um vídeo onde pede o apoio da população contra os ataques.
"Essa crise é, talvez, a pior da história da segurança pública no RN, motivada por briga de facções criminosas em todo o país. Nosso governo não recuou, e por não ter negociado e se intimidado, [os bandidos] querem levar o pânico a população. Não vamos aceitar, nosso governo não negocia com bandidos, não recua", disse Robinson no vídeo.
O governador pede que a população apoie as ações do governo e "confie na polícia" para "vencer essas facções" criminosas. "Jamais eles serão maiores que o Estado", finaliza Robinson.
NOVO MOTIM
Começou na noite desta quarta um outro motim, agora na penitenciária estadual do Seridó, conhecida como o Pereirão, que fica na cidade de Caicó.
Informações preliminares apontam que a rebelião foi iniciada por membros do Sindicato, que não aceitariam a chegada de presos do PCC. Ao menos um detento morreu.

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