Temer soterrou o Ministério da Ciência e agora ataca a ciência
Pedro Ladeira - 5.out.2016/Folhapress | ||
Michel Temer, durante solenidade no Supremo Tribunal Federal |
1-
Estar atualizado, no Brasil de hoje, é saudar o retrocesso. A rigor,
nossos inovadores fazem mais do que retrocessos, querem ir, e vão, além
de estágios degenerados do passado. Depois da "reforma do ensino" por
medida provisória, uma e outra produzidas em cavernas não identificadas,
o ataque volta-se contra a ciência e os cientistas.
Foram
longas batalhas para criar e depois dar alguma organicidade ao
Ministério da Ciência e Tecnologia. Temer & associados, no entanto,
depressa o soterraram sob um tal Ministério da Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações, uma salada de funções bastantes para impedir
que qualquer uma seja cumprida.
Há
pouco, deram seguimento à sua missão: a Academia Brasileira de Ciência,
a Sociedade Brasileira de Biofísica, a Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, e outras entidades científicas, denunciam o
comprometedor rebaixamento, na hierarquia do novo "ministério", de
numerosos conselhos, agências e comissões destinados a alicerçar as
atividades científicas.
Afastar
mais as instituições de ciência e a cúpula da administração impede a
criação de uma política de meios e metas para a atividade científica,
como parte de um (inexistente) projeto nacional. Além desse impedimento
final, já o fluxo dos recursos primordiais está obstruído, com entidades
apenas capazes de mal se manter, e vai piorar sob a compressão do
pretendido "teto" de gastos.
2-
Desde o final da apuração, Marcelo Crivella tem repetido que "o Rio se
manifestou contra o aborto, a descriminalização das drogas e a discussão
de gêneros" [sexuais]. É a sua maneira de dar por iniciado o
retrocesso, a título de cantar um êxito que já foi chamado até de
"avalanche!" na imprensa importante do Rio. Mas falta fundamento tanto
às suas afirmações, como aos comentários impressionados com seu êxito e o
que significaria.
A
colaboração do PMDB a Crivella deveu-se, na verdade, à falta de
alternativa de Eduardo Paes para o seu candidato inviável. Houve ainda a
colaboração de Freixo, decorrente de sua insuficiência para o desafio a
que se propôs. E, se alguém quiser discutir esses dois fatores, o
terceiro é definitivo.
Como
a soma de abstenções, votos brancos e nulos totalizou 46,93% dos
eleitores, índice brutal e nada surpreendente para o desalento com os
candidatos, Crivella e Freixo disputaram 53,07% do eleitorado. Metade,
na prática dos eleitores. E Crivella foi votado só por pouco mais de
metade daquela metade, ou 59,37% dos 53,07% votantes.
Logo,
Crivella foi eleito por 31,5% do eleitorado carioca total. Dizer que o
Rio se manifestou em tal ou qual sentido, na eleição em que esteve tão
restringido nas possibilidades de escolha, não é só o início imediato de
um programa de governo escamoteado na campanha. É, sobretudo, uma
falácia. Como gesto inaugural, quase doloroso.
Já
a vitória do PSDB foi maior do que o indicado pela aritmética das urnas
e dos comentários. Não em termos eleitorais ou geográficos, mas
políticos e ideológicos. Os êxitos do PPS e de parte do PSB fortalecem
também o PSDB, do qual são como reboques.
Mas
a tão cantada vitória peessedebista para a Prefeitura de Porto Alegre, a
primeira, tem pouco ou nada a ver com o partido. Basta observar que o
eleitorado de Porto Alegre elegeu apenas um vereador do PSDB. Mesmo
elegendo o prefeito —evidente rejeição ao partido, por mais que lhe
atribuam grande avanço gaúcho.
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