Gratidão
João
nasceu numa comunidade muito carente e passou os primeiros anos vivendo
num ambiente hostil e perigoso, dominado por
pessoas perversas e sem escrúpulos. Prevalecia, literalmente, a lei do
mais forte. Pobre criança! Filho de dona Rosa, viúva, diariamente descia
o morro para trabalhar como faxineira em apartamentos de um bairro
elegante da cidade. O menino ficava com a vizinha,
uma sofredora e bondosa prostituta de nome Tereza que foi injustamente
castigada pelo destino. A criança presenciava cenas extremamente
constrangedores. Homem covarde batendo em mulher, pessoas bêbadas,
tráfico de drogas, assassinatos,
etc. O poder público pouco fazia para melhorar as
condições de vida da população da referida comunidade. Quando Joãozinho
completou oito anos, Tereza, mulher de bons sentimentos, procurou dona
Rosa e sugeriu que o menino
fosse morar na “Casa de Maria”, instituição filantrópica, pertencente a
uma senhora aposentada de classe média inferior, cujo objetivo era
apoiar crianças pobres e sem perspectivas para o futuro. Dona Rosa
concordou e ao ver o filho ingressar na “Casa de Maria”,
com os olhos lacrimejando, olhou para Tereza e para a diretora e disse:
vocês duas são “santas’, Deus saberá pagar minha dívida. João era muito
inteligente. Estudou, recebeu assistência médica e orientação
comportamental. Anos depois, ingressou na Universidade,
começou a trabalhar e logo foi buscar sua mãe, já cansada, e Tereza,
com crises de hemoptise. Ambas recuperadas, voltaram à “Casa de Maria” e
passaram a trabalhar, sem remuneração,
com a senhora aposentada. A vida, às vezes, é assim.
Gonzaga Mota
Professor aposentado da UFC
- Ex Governador do Ceará e meu amigo.
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