BABEL BRASILEIRA
MARLI GONÇALVES
_________________________________________________________________
As palavras, ah, as palavras, as palavras. Elas vêm e vão igual à moda e às
ondas do mar. Algumas vivem só por estações ou temporadas, depois ficam esquecidas num canto até que alguém lembre
de ir buscá-las para convencer um outro alguém de seus significados
_________________________________________________________
Espero que a palavra gestão, por exemplo, se salve desse destino triste após as
eleições. Nunca tinha sido tão usada, e é na verdade tão necessária em seu sentido pleno. Vou torcer para
que - depois de ser entendida - encontre outras, como organização, e em causa própria citarei mais uma que anda
toda ralada por aí, se prostituindo por pouco: comunicação. A imprensa nacional em crise de identidade,
cambaleante, bebendo muito, e em fontes estranhas, perdida atrás de seus leitores e telespectadores.
Penso se as redes sociais
não são essa enorme centrífuga de pensamento que domina neste momento, tinhoso, ranheta e rabugento, mas que deu voz a todos, e
como em Babel, vozes que não se entendem entre si.
O problema é que elas já ecoam na
Torre completamente embaralhadas, porque nunca vi tanta incompetência em gerir a comunicação como a que está demonstrando
esse governo. Eles, primeiramente, fora..., como já de brincadeira se diz e a coisa pegou, nem combinam nada entre si, e saem por
aí atirando medidas fortes para o alto, e logo elas caem e se despedaçam sem qualquer sentido.
12 horas de trabalho /dia.
Desobrigação de aulas de Educação Física e Artes no ensino médio, e obrigatoriedade apenas de Inglês
(!), Português e Matemática. Cortes em programas sociais. Tesouradas agressivas na Previdência, na aposentadoria. Mordidas nos
orçamentos de Saúde e Educação. Cada dia um solavanco e uma correria para explicar o inexplicável, negar, dizer que
não é bem assim, que tudo ainda está em estudos. E a melhor: que a sociedade ainda vai ser consultada a respeito desses
vários temas.
Acho linda essa parte. Quando falam na "sociedade civil", então, até me arrepio e
eriçam-se os pelinhos. Lembra imediatamente a outra horripilante palavra, empoderamento. Há novas rodando alta quilometragem,
como coletivo, situação de... (rua, etc.), vai lembrando de outras e me manda - vou começar uma
coleção.
Mas voltando à vaca fria, o governo, um diz uma coisa, o outro faz outra. Um explica de um lado, o outro
confunde de outro. E, como tudo que é assim, nada acontece, fica parado. E se anda, dançam melhor o bate-cabeça do que muitos
metaleiros, os do rock pesado.
Escrevam: nessa toada não vai
dar certo. Continuamos em suspensão
mesmo depois de meses desse doloroso processo de impedimento e troca de
comando. Como se uma espada pairasse todos os dias sobre a cabeça dos
escolhidos, alguns muito mal escolhidos, aliás, observe-se, os amigos de
num sei quem que vêm sendo apresentados ou se apresentam como
salvadores da pátria com planos mirabolantes. Inclusive a promessa de
agora, a de resolver a babel brasileira.
Essa espada é que ainda tem muita gente por aí dando com a língua nos dentes.
- Marli Gonçalves, jornalista - - O
jornalismo precisa se salvar. Merecemos não entrar em extinção, tanto quanto o mico leão dourado e as ararinhas
azuis.
São Paulo, 2016, entre a gestão e a caldeirinha
Nenhum comentário:
Postar um comentário