Opinião

De editorial do Jornal Diário de Notícias de Portugal
Por LEONÍLDIO PAULO FERREIRA

Grande Brasil

O Brasil está de parabéns. A alma do país que fazemos bem em chamar de irmão esteve evidente na festa da abertura dos Jogos Olímpicos: beleza, emoção, festa. Há quem compare o espetáculo com o de Londres há quatro anos, fazendo contas de quanto se conseguiu agora com bem menos dinheiro do que o gasto pelos britânicos. Ora, conseguiu-se bastante e sobretudo os brasileiros provaram que numa época em que se fala muito de capital não existe nada mais valioso do que o capital humano, chame-se Paulinho da Viola, Gisele Bündchen, Fernanda Montenegro (ainda que só a voz, a ler Drummond de Andrade), Ludmilla ou Gilberto e Caetano. Que bela lição para um país que vive em recessão, que vê os políticos criticarem-se até à destruição, que não sabe bem quem é o presidente, que nunca mais vê o futuro prometido.
"Cerimónia dos Jogos Olímpicos foi um recado para o mundo", escreveu um colunista brasileiro. Outro afirma mesmo: "Vemos a possibilidade de uma virada no estado de espírito do país." E há ainda quem, cheio de orgulho, proclame que "no hemisfério sul raramente se viu algo como a abertura do Rio 2016". Têm razões para estar felizes os brasileiros, nós portugueses também. Pode haver muito de universal na cultura brasileira, desde a bossa nova ao Carnaval, mas ninguém entende tão bem aquilo que eles são como nós aqui neste canto da Europa. É a língua, são também séculos de história comum, desde essa chegada das caravelas que foi relembrada no Estádio Olímpico e vista mundo fora pelos milhões colados ao ecrã.
O Brasil é grande. Em tamanho, em população, em história, em criatividade, em engenho. A crise, mesmo que terrível, só pode ser passageira. O tal país do futuro que tanto impressionou Stefan Zweig existe mesmo. Lá se constroem aviões, lá se fazem satélites, como é que não havia de ser capaz de organizar uns Jogos Olímpicos mesmo que com imperfeições?
De D. Pedro, pai da independência, a Carmen Miranda, não faltam os portugueses na história do Brasil. Mas talvez nenhum seja tão importante como D. João VI, que foi o primeiro monarca europeu a cruzar o Atlântico, fez do Rio de Janeiro a capital do império, tornou o Brasil um reino e lá se fez coroar antes de regressar a Lisboa, e antes de morrer ainda reconheceu a independência que o seu filho e herdeiro tinha proclamado. D. João VI, tão querido dos brasileiros, estaria de certeza orgulhoso desta cerimónia.

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