Opinião

Tarcisio Leitão

Ele foi e será sempre lembrado pela sua história e posições políticas. Pelo advogado trabalhista destemido e absolutamente comprometido com os pobres, desassistidos e deserdados da sorte. Pelo socialista convicto e declarado integrante do Partido Comunista Brasileiro. Pela sua bravura existencial, coragem cívica, bela oratória e compreensão quase religiosa de que viver é fazer o bem. Para ele o homem devia ser bom!
Amigo-irmão do meu pai, o advogado Luiz Edgard Cartaxo de Arruda, Tarcísio Leitão – chamado carinhosamente pelos meus pais de Nego Velho – foi sempre uma presença constante e marcante na minha casa. Eu e meus irmãos adorávamos aquele homem miúdo e forte, sua voz metálica e precisa, sua pronuncia irreparável, seu carinho transbordante, suas histórias e observações absolutamente próprias e originais, seu humor contagiante e, sobretudo, o seu riso seguido de uma gargalhada única e inconfundível.
Certa noite, pilotando uma moto, ele adentrou na Vila Santa Isabel na Rua Quintino Bocaiuva quase esquina com a Rua Senador Pompeu, onde morávamos numa casa singela. Depois do silêncio da máquina aquela voz inconfundível e inesquecível ecoou por toda a Vila: Dr. Cartuxoooo. Minutos depois estávamos todos na pequena varanda da casa ouvindo a voz e a gargalhada do Nego Velho. É a primeira imagem que tenho dele.
Quando veio o golpe de 1964 ele e meu pai tiveram que se esconder da repressão do novo governo. Meu pai respondeu alguns interrogatórios, mas não foi exatamente preso. Tarcísio não teve a mesma sorte. Foi para o presídio na Ilha de Fernando de Noronha. Me recordo da aflição do Flavio Leitão, irmão dele, querendo alugar um avião para sobrevoar a Ilha para tentar ver, mesmo que distante, o irmão preso.
Longos meses depois o Nego Velho reaparece quase que de surpresa numa manhã de domingo. Havia sido solto. Agora num Jeep Willys azul com capota de lona, já em companhia da Mirna sua grande mulher. Evitando ser visto, ele passou na minha casa e formos todos para um sitio na Lagoa Redonda. Sua presença voltou à mesma rotina e com mais frequência. Logo ele nos falaria da África, seu pequeno sitio na praia da Sabiaguaba onde depois viria a fixar residência. Sempre que podia corria para o refúgio do Tarcísio, não raro em companhia de outros amigos. Com evidente alegria ele recebia a todos com fartura e carinho. Também tinha hábito de visita-lo no seu escritório na rua Assunção. Depois seguíamos para a casa do Babão para tomar uma pinga e comer avoante. Grandes dias! Saudade amigo… muita saudade!
Jorge Henrique Cartaxo
Jornalista

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