Bom dia

Crise derruba clientela de boates e atrai mais garotas de programa

Sentada no bar, Bia é a mais calada entre duas garotas. Aos 20 anos, ela tem os gestos e a voz que cabem justos em seu corpo franzino.
Não fosse o semblante desconfiado e, ainda assim, ela se destacaria. A pele pálida, os olhos negros realçados pela maquiagem discreta e o vestido mais comportado do que a média local, fazem dela algo diferente. É sua quarta vez.
Na outra ponta do balcão, Fernanda, 22. Blusa decotada, shortinho jeans, é mais despachada e direta. Sempre com um copo de caipirinha nas mãos, a morena circula pela boate com a destreza de uma veterana. Não é o caso. É ainda mais novata do que Bia. É apenas sua terceira vez.
Nenhuma delas vai voltar para casa com dinheiro nessa terça-feira fria em São Paulo -R$ 150 por 40 minutos de sexo em um dos quartinhos abafados nos fundos da boate.
Não são as únicas. Segundo donos, funcionários das boates e as próprias mulheres, em meio à pior crise econômica em décadas no país, esses lugares estão cada vez mais cheios... de garotas de programa, e só. Muitas, assim como Bia e Fernanda, levadas até ali, segundo elas, pelo desemprego do lado de fora.
No Bahamas e no Café Photo, ambos na zona sul e considerados de alto nível, os valores da entrada -R$201 e de R$100 a R$150, respectivamente- foram reduzidos. "A média era de 250 homens por dia. Hoje, para colocar 70, 100 é uma situação delicada", afirma Oscar Maroni, empresário da noite e dono do Bahamas.
Há oito meses, a estudante de publicidade Rebeca, 25, se tornou assídua do local.
Foi mais ou menos na mesma época em que percebeu que seu padrão de vida havia caído. Mantida pelos pais com cerca de R$ 2.500 mensais, ela se deu conta de que precisava de uma renda fixa e maior após ser rejeitada em mais de 15 entrevistas de estágio.
Olhos claros, cabelo castanho e corpo perfeito. Sair com ela não custa menos do que R$ 500. O preço inicial era R$ 700. "Nos primeiros meses, tirei até R$ 30 mil", diz. "Agora, de R$ 20 mil a R$ 22 mil."
Há dez anos na noite, Aline Ribeiro, 30, já ganhou tão bem quanto Rebeca. Em 2015, seu cachê caiu de R$ 400 para entre R$ 250 e R$ 300.
DoUOL.

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