Alegria em dobro: Hypolito e Nory faturam prata e bronze no solo
A ginástica brasileira teve um dia histórico na tarde do último domingo. Na Arena Olímpica do Rio, Diego Hypolito, aos 30 anos, e Arthur Nory, com 22, escreveram um capítulo especial para a modalidade no Brasil. Com ótimas apresentações na final individual do solo, Diego superou traumas das duas últimas edições dos Jogos Olímpicos para ficar com a prata, e Nory, atleta da nova geração, completou a festa com um bronze. Eles só ficaram atrás do britânico Max Whitlock, medalhista de ouro.A medalha de Diego Hypolito foi a primeira do Brasil, na Rio-2016, não conquistada por um militar. Já tinham subido ao pódio Felipe Wu (prata no tiro) e os judocas Rafaela Silva (ouro), Mayra Aguiar (bronze) e Rafael Silva (bronze), todos integrantes das Forças Armadas do Brasil, assim como Nory, que é da Aeronáutica.
A Série
Empurrado pela animada torcida que encheu a Arena, os ginastas adentraram a área de competição demonstrando muita concentração. Os milhares de brasileiros nas arquibancas ovacionavam os brasileiros na disputa, mas o foco estava em acertar cada movimento. Diego estava sério, olhar compenetrado, preocupado em acompanhar cada detalhe das apresentações dos outros comepetidores. O japonês Kohei Uchimura foi o primeiro a enfrentar o tablado, mas sua performance não foi segura e era um concorrente a menos na disputa.
Era chegada a hora de Diego Hypólito, que trocou de treinador há apenas um mês e meio antes do início dos jogos, que venceu a depressão causada pelos fracassos nas últimas duas Olimpíadas, que superou traumas e a desconfiança geral. O ginasta fez uma grande apresentação, com movimentos corretamente desenvolvidos e aplicados, com um ótimo grau de dificuldade, detalhe que conta na avaliação geral dos árbitros (o atleta pode elevar o grau de dificuldade de sua série, com isso também aumenta o risco de erros).
Foi bem
Diego foi quase perfeito, sem erros aparentes, conseguiu passar segurança para os juízes, mas, na prática, não conquistou a nota que esperava: tirou 15,533, pontuação considerada alta. No entanto, assim que saiu seu resultado, o telão conseguiu capturar ele falando para Marcos Goto, seu técnico, que a nota era baixa. O ginasta e sua equipe ficaram tensos, receosos, com o sentimento de que dava pra ter ido mais longe.
Os norte-amerianos Jacob Dalton e Samuel Mikulak também não fizeram séries empolgantes. Mas, o que ele ninguém imaginava é que o grande favorito, o japonês Kenzo Shirai, faria uma apresentação irregular, trôpega, com alguns erros até infantis, e que essa nota seria responsável por consagrá-lo com uma prata olímpica. “Isso é fruto do trabalho deles, Diego treinou muito para essa final. Eles fizeram a parte deles. Nosso país está de parabéns, nossos atletas estão de parabéns. Diego provou para muita gente, que, com muito trabalho e muito sacrifício, você consegue ser medalhista olímpico. Se trabalha duro, o resultado é medalha”, disse Marcos Goto, técnico de Diego, à TV Globo.
O bronze de Nory
Arthur Nory era o outro brasileiro na final do solo individual e também teve um bom desempenho. Fez uma série mais simples que a do compatriota, porém bem executada, sem adversidades. Com uma medalha já garantida por Diego, restava a Nory esperar até o último competidor para saber se faria parte do pódio e da festa. Ajoelhado, de cabeça baixa e chorando, Nory aguardou e depois celebrou a conquista do bronze logo em seus primeiros Jogos Olímpicos, com uma série que lhe rendeu 15,433.
“Estou muito emocionado, passa um filme na minha cabeça de toda a história da ginástica no Brasil, das coisas que tive de abrir mão para chegar até aqui. Tem de focar e sempre acreditar no sonho. Eu alcancei o meu. Fiz a apresentação da minha vida”, desabafou Arthur Nory, emocionado, ao subir ao pódio com Diego, ídolo do terceiro colocado.
Diego espanta tabu
Com uma apresentação segura, sem cometer erros, Diego espantou um fantasma que o perseguia nas últimas duas edições de Jogos Olímpicos: as quedas na apresentação do solo. Em Pequim-2008, após se passar em primeiro lugar na classificatória do solo, Diego foi para a sua primeira decisão olímpica com chances de ganhar a primeira medalha da história da ginástica para o Brasil. Uma queda sentado, no entanto, o deixou apenas em sexto lugar na decisão. Quatro anos depois, em Londres-2012, outra queda, dessa vez de frente, ainda na fase classificatória. Assim, Diego não conseguiu nem mesmo chegar à final.
“Já caí de bunda em Pequim, caí de cara em Londres, agora vou cair de pé para o pódio no Rio”, o bicampeão mundial gostava de repetir sempre essa frase, que funcionava até como um mantra, uma forma de jamais esquecer o que lhe aconteceu. E funcionou.
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