Opinião do Paulo

O TRISTE FIM ...
Ninguém, em sã consciência, é totalmente incapaz de gestos de grandeza nem tampouco é tão puro e comprometido com os valores e princípios que o senso comum estabelece, que, por acaso, não tenha cometido algum deslize ou que não tenha praticado possíveis contravenções, em algum momento, as quais possam ter colocado, em questão, a sua biografia. Também é algo de clareza meridiana, que ninguém pode se atribuir o monopólio da verdade, da moral e nem da decência.
A mídia, que assumiu o papel de quarto poder, na república ou da república, tem tido o condão de assumir-se como uma espécie de última instância da verdade. E, assim, quando decide acusar, denunciar, julgar e estabelecer sentenças, às vezes, as mais impiedosas e as mais draconianas tanto quanto mais rápido se tenha escolhido e definido a vítima que será levada ao sacrifício extremo e ao cadafalso, melhor para os seus propósitos.
Por outro lado, o gosto pela tragédia, pela paixão novelesca, esse entusiasmo pela dramaticidade no trato com bandidos e vítimas, tão própria das massas populares, notadamente do Brasil, propicia situações tais em que são gerados momentos os mais apropriados a quase linchamentos públicos, de caráter tão triste, tão deplorável e tão vergonhoso para qualquer sociedade dita civilizada.
Se a violência de terroristas, ou de lobos solitários, ou do crime organizado ou ainda, fruto da brutalidade policial, já legam e levam, ao cidadão, um noticiário repleto de crimes, tragédias e de barbáries de toda ordem, há ainda os que, na mídia, em busca de notoriedade, de um modo ou de outro ou de qualquer jeito, estimulam que se crie hoje, no Brasil, um ambiente assemelhado ao Terror, da Revolução Francesa.
Jornalistas, muitas vezes sem a isenção necessária, sendo administrados mais pela emoção das ruas, têm julgado e condenado vários homens públicos, pelo modismo que a sociedade novelesca determina. Exige-se, como que, "um quase gosto de sangue na boca", que se leve as últimas consequências alēm da humilhação, da desmoralização e da execração pública, alguém que, por acaso, a midia já julgou e condenou, mesmo antes que instâncias judiciais legítimas terem estabelecido o trânsito em julgado do seu processo.
Assistiu-se a quase destruição de idoneidades, às vezes, da maneira a mais leviana possível, como foram os casos mais recentes de Ibsen Pinhero, de Alcenir Guerra e do Ministro de Itamar, Henrique Hargreaves, entre outros, estimulada, a midia, pelo chamado efeito manada quando a sociedade é levada a ser conduzida pelas emoções, estimulada, muitas vezes, pela ação da própria mídia e pelos dramáticos apelos novelescos pelos quais são estimulados o povo e suas emoções, para justificar a condenação sumária tais cidadãos!
O julgamento impiedoso, rápido e definitivo de Eduardo Cunha, embora, é bom que se diga seja, em parte, muito culpa dele que, pela sua arrogância e presunção decidiu enfrentar o "mundo todo" ao mesmo tempo, sentindo-se uma espécie de super herói e não fazendo uma avaliação de suas fragilidades e da sua incapacidade de confrontar adversários tão difíceis. Aliás adversários capazes de arregimentar a própria sociedade civil e, com isso, transformá-lo numa espécie de inimigo número um da sociedade como um todo!
Eduardo Cunha, tornou-se uma espécie de Larry Flint do País -- "Todos contra Larry Flint!", quem não se lembra do filme? -- pois que resolveu brigar com Dilma, com o PT, com o Procurador Janot, com os procuradores como um todo e, até, com o intocável Supremo. Não respeitou duas máximas exigidas por qualquer embate, notadamente os da vida públca, que são quando se luta pela sobrevivência política: nunca se briga com quem usa saias e não se briga com adversários poderosos, sem ter parte da mídia ao seu lado. As saias são as das mulheres, dos togados e da igreja! Ninguém aguenta uma luta desse tamanho e com adversários tão poderosos, ao mesmo tempo sem que conte com alguns defensores na mídia.
Pretensiosamente Cunha não cultivou, pelo menos a necessária falsa humildade, como sempre sou ersm fazer os mais espertos de trazer a mídia para o seu lado ou, pelo menos, parte dela. E, mais ainda quando se sabia que ela estava ansiosa por encontrar alguém para ser o bode expiatório de toda essa crise existencial, moral e ética em que o Pais estava e ainda estå mergulhado.
E o pior para Cunha foi que, ninguém, particulamente, os pretensos imparciais analistas da cena política, sequer procuraram estabelecer um paralelo ou diferenciar a atitude dele de outros homens públicos no proscênio atual que, embora citados, acusados, denunciados e até com processos criminais em curso, não enfrentaram o mesmo tiroteio e o encurralamento que sofreu e ainda sofre Eduardo Cunha! Ou seja, qual a diferença dos crimes cometidos por Cunha e dos supostos crimes cometidos por essas outras personalidades da cena política? É difícil avaliar e comparar Cunha e os demais para estabelecer a dosimetria da pena a ele imposta e as penas que advirão, em cima dele e de sua família, até o fim do processo.
O cenarista não é daqueles como Roberto Jefferson que, ao reconhecer que Cunha foi o "bandido predileto ou preferido" que montou, estruturou e deu consistência a todo o processo de desconstrução de Dilma, de Lula e do PT e que, sem o seu comando e determinação, a Câmara nunca teria votado o processo de impeachment de Dilma. O País, se de um lado assistiu o protagonismo de Cunha nesse processo que era anseio da maioria do povo brasileiro, por outro lado, assistiu a atitude passiva de Sarney, de Renan, de Eunicio e de Raupp e, até mesmo, da própria mídia que, ora se encolhia ou esperava que alguém assumisse todos os ônus e riscos de forçar e tornar tal processo possível. E esse protagonismo maior, tão necessário e fundamental para que o País estivesse a viver um novo tempo, foram as manifestações de rua e a ação estratégica e firme de Eduardo Cunha à frente da Câmara, quer queiram ou não a midia e os seus parceiros, foi o principal ator dessa cena!
Este cenarista não está a fazer a defesa de Cunha nem dizer que a Câmara deveria ser conivente ou leniente com as suas diatribes e que ele não pagasse o preço pelos crimes e erros que porventura tenha cometido em face da contribuição que ele deu a causa democrática nacional. . Mas, essa crucificação pública, transformando o ex- presidente da Câmara no pior dos meliantes, visto como alguém sem qualquer principio, sem qualquer moral e sem qualquer ética, não lhe reconhecendo qualquer ou algum mérito, qualquer valor e nem qualquer contribuição para retirar o País dessa situação, tão dramaticamente constrangedora, parece que se exacerbou na dosimetria da pena, imposta, primeiro pela midia e, depois pelas instâncias judiciais.
Mas, o que parece pior ē ter que assistir a essa execução sumária de um politico e, aonda por cima,ter que ouvir as sentenças proferidas por essas "Torquemada de saias", não com as saias da inquisição da igreja, mas da inquisição da mídia, as jornalistas que, quase num prazer orgástico, ao serm impiedosa na acusação. No proferir suas sentenças, representam, com tal atitude, um espetáculo ainda mais desagradável!
Eduardo Cunha, parcece que a festa acabou, os músicos guardaram e embalaram seus instrumentos e você ficou a curtir a solidão dos criminosos erráticos, sem a solidariedade sequer dos carcereiros! E você, tão esperto e tão sabido, não conhecia as dimensões da condição humana e não conhecia o País que tem uma elite grotesca que assume o papel de julgadora da moral e da decência de um ou de muitos! É pena! Você perdeu! É, parece ser o triste fim de Eduardo Cunha! Ou será que não?
Será que, segundo as más línguas, ele não cairá sozinho? Será que levará outras figuras publicas, de roldão?. Será que viriam políticos como ele ou, até mesmo, membros do poder judiciário, desmoralizando a instância que mais problemas e dificuldades criou para ele? Alguns acreditam que as retaliações virão e terão repercussão tal que gerarão um grande imbroglio nacional. Será? É esperar para ver o que vai acontecer!

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