Deu no Correio da Manhã de Lisboa

Meirelles dá ordens para começar a apertar o cinto

Henrique Meirelles, o novo ministro das Finanças brasileiros
Novo ministro das Finanças escolhe equipa de economistas liberais e austeros como colaboradores mais próximos. Na política, Eduardo Cunha terá influência no governo de Temer.
Henrique Meirelles, o novo ministro das Finanças do Brasil, não ficou sensibilizado com o pedido de quatro governadores de estados para uma renegociação dos juros da dívida para com o governo federal, e intimou-os a fazer ajustamentos orçamentais duros. A resposta ontem do novo titular da Fazenda dá o tom para o que serão os próximos passos do governo liderado pelo presidente em exercício Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB).
"É preciso que também os estados tomem medidas duras, vamos fazer as contas porque tudo tem um custo, o aumento do défice e da dívida." Meirelles, que pertence ao Partido Social Democrático, membro da coligação governamental, indicou que exigirá contrapartidas em caso de negociação com quatro dos principais estados do país, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, até porque segundo as suas estimativas, o rombo nas contas públicas deste ano pode chegar aos 150 mil milhões de reais (perto de 40 mil milhões de euros).
Na véspera, o novo patrão das finanças havia divulgado a sua lista de colaboradores mais próximos, incluindo Ilan Goldfajn, novo presidente do Banco Central. Em comum, os quadros têm a experiência técnica e o perfil austero e liberal. Todos têm ao longo do último ano defendido publicamente a necessidade de reformar a Segurança Social, fixando uma idade mínima para a reforma que ainda não existe no país, e outros cortes.
Ano de JO e eleições
O timing para a reforma não é o ideal, num ano em que o Brasil estará envolvido com a organização dos Jogos Olímpicos, em agosto, as eleições municipais, em outubro, a sequência do impeachment a Dilma Rousseff, o andamento da Operação Lava-Jato e a eventualidade de destituição de Temer por irregularidades nas contas da campanha de 2014 no Tribunal Superior Eleitoral.
Além disso, esta reforma enfrentará forte contestação popular e parlamentar. "É, no mínimo, desconfortável depender tanto de reformas impopulares a serem submetidas ao Congresso", escreve o analista Gustavo Patu no jornal Folha de S. Paulo.
Para suavizar a oposição no Congresso Nacional, Temer escolheu três aliados de Eduardo Cunha, o presidente afastado da Câmara dos Deputados mas ainda o mais influente dos deputados, para posições-chave do governo. Desde terça-feira, um ex-advogado e um ex-assessor de Cunha vão trabalhar diretamente com o ministro Geddel Vieira Lima, o encarregado das relações entre executivo e legislativo.
E, ontem, um dos membros mais reconhecidos da chamada "polícia de choque" de Cunha no parlamento, o deputado André Moura, do Partido Social Cristão, foi nomeado interlocutor oficial do governo na Câmara dos Deputados, o que motivou críticas veementes da oposição.
Ainda na Câmara, deputados exigiram, de pé e aos gritos na sua direção, a demissão de Waldir Maranhão, do Partido Progressista, chefe interino da casa e autor de pedido de anulação da votação do impeachment de 17 de abril.
Com a relação entre executivo e legislativo ao rubro, o poder judiciário também foi abalado ontem pela notícia de que numa limpeza de rotina foi descoberto debaixo da mesa do gabinete de um dos 11 juízes do Supremo Tribunal Federal um microfone. O aparelho servia para gravar o meio ambiente, isto é, o que se passasse na sala e não o telefone do juiz Luiz Roberto Barroso, que considerou "a situação gravíssima". Antes de Barroso, era Joaquim Barbosa, o magistrado que fez o relatório do Mensalão, quem ocupava aquelas instalações.

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