Da imprensa internacional

Michel Temer despede 'garçom' do Planalto por ser muito petista

Criticado pela falta de mulheres no seu governo, Temer reuniu-se ontem com as deputadas que o apoiam
Demissão tornou-se símbolo da onda de cem exonerações por dia do novo presidente. Lula está indignado. Na Câmara, quem dirige as sessões ganhou 12 vezes a lotaria num mês
José Catalão era muito conhecido entre políticos, jornalistas e outros frequentadores das instalações do Palácio do Planalto desde que há mais de nove anos assumiu as funções de garçom, o equivalente a empregado de mesa, dos presidentes Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT), e de quem os visitasse. Mas não estava à espera de ganhar fama nacional ao tornar-se o funcionário símbolo da onda de exonerações que o presidente em exercício Michel Temer, do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB), vem fazendo.
Em notícia divulgada pela coluna de bastidores Painel, do jornal Folha de S. Paulo, os motivos apresentado para a demissão foram o de Catalão "ser muito petista", o que o próprio vem negando, ao afirmar que não tem vínculo partidário e que até serviu o vice-presidente Temer, com quem mantinha relação cordial, em muitas ocasiões.
A página oficial de Lula na rede social Facebook comentou o episódio, transcrevendo um telefonema do ex-presidente ao ex-garçom depois de ter tomado conhecimento da exoneração. "Ô meu querido, liguei para prestar minha solidariedade, você sempre foi um funcionário exemplar, que alegrava muito o palácio. É uma pena que um governo provisório aja como um governo definitivo para demitir funcionários como você", disse Lula ao telefone, segundo a rede social.
O senador Randolfe Rodrigues, do Rede Sustentabilidade, partido de Marina Silva, também comentou a medida. "Quer dizer então que o mordomo decidiu demitir o mordomo, seria muito engraçado, se não fosse triste", afirmou, aludindo à alcunha "mordomo de filme de terror" que se colou a Temer.
O presidente em exercício tem demitido uma média de cem funcionários por dia útil, desde que tomou posse na quinta-feira dia 12. Na sexta-feira, dia 13, caíram 170, na segunda-feira foram 84 e na terça-feira 70. Não há dados ainda dos dois últimos dias mas estima-se que os despedimentos atinjam mais de 400 pessoas.
Além do garçom José Catalão, também a demissão do fotógrafo oficial de Dilma, Roberto Stuckert Filho, causou sensação nos meios políticos. Mas a exoneração mais controversa foi a de Ricardo Melo, nomeado há meses diretor da Empresa Brasil de Comunicação, que controla a TV estatal, e tinha contrato de quatro anos. Melo já acionou os tribunais contra a medida.
Sorte ao jogo
Ao longo da tarde e noite de ontem, Eduardo Cunha (PMDB) presidente afastado da Câmara dos Deputados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por causa de suspeitas de favorecimento pessoal no exercício do cargo e envolvimento nas investigações da Operação Lava-Jato, defendeu-se no Conselho de Ética, onde é acusado de falta de decoro por ter mentido à casa quando negou ter contas na Suíça mais tarde comprovadas. Voltou a negar a titularidade dessas contas e a pressão a colegas deputados para favorecimento pessoal, considerando-se "injustiçado" e "vítima de um julgamento político".
Entretanto, o seu substituto, Maranhão, do Partido Progressista, decidiu recolher-se ao gabinete para deixar de ser vaiado pelo plenário sempre que se sentava na cadeira, por ter querido anular a sessão do impeachment na casa com quase um mês de atraso para logo a seguir revogar a própria decisão.
Por isso, é Fernando Giacobo, do Partido da República, o próximo na linha de sucessão, quem vem presidindo às sessões legislativas, no lugar que foi de Cunha primeiro e que foi de Maranhão depois. E quem é Giacobo, perguntou-se a opinião pública? Giacobo é o deputado que explica o seu enriquecimento súbito pelo facto de ter ganho na lotaria - e outros jogos do tipo organizados pelo banco público Caixa Económica Federal - 12 vezes em duas semanas no ano de 1997. "Pura sorte, pura sorte, juro por Deus, eu sou um cara de muita fé", justificava-se o deputado em entrevista de 2004 ao jornal Folha de S. Paulo.
O STF chegou a constituir Giacobo réu em crimes de sonegação de impostos, falsidade ideológica, formação de quadrilha, sequestro e cárcere privado mas todas as ações já prescreveram.

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