Christiano Câmara morreu



Secult divulga nota de pesar pela perda de Christiano Câmara, pesquisador, colecionador, memorialista, divulgador da música, do cinema, da história e da cidade

Nesta terça-feira, 22/3, a Rua da Escadinha, Fortaleza, o Ceará e o Brasil amanheceram tristes. A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) manifesta profundo pesar pela perda do grande pesquisar, memorialistas, colecionador, debatedor e, principalmente, do ser humano Christiano Câmara. Um dos maiores pesquisadores de todo o Brasil, quanto aos temas da história, da cidade, do cinema, da música, das revistas. Acima de tudo, o dono de uma prosa sem igual, que brotava da gentileza com que abria as portas de sua casa-museu-acervo para receber quem quer que fosse, em uma viagem sem fim pela Fortaleza e pelo País de ontem, como tivesse o poder de contorcer a espiral do tempo e de nos fazer voltar, encantados, aos anos 10, 20, 30, 40, 50. Aos tempos de delicadezas, mas também da veemência, tão característica de Christiano.

Afinal, era justamente a paixão com que defendia suas ideias e seus ideais a qualidade maior deste grande curador e cicerone dos mistérios do tempo e da arte, conforme tão bem registrou seu sobrinho, o cineasta cearense Marcio Câmara, no laureado filme "Rua da Escadinha, 162". A intensidade da prosa, a ênfase das veias a saltar e das mãos a falar, a urgência de se fazer compreender no todo de seu sentir e pensar absorviam quem tinha o privilégio de conversar com Christiano, sobrinho, por sua vez, de outro grande defensor de ideias e pessoas, Dom Helder Câmara. Melhor ainda que rebater, contrapor, perguntar, era simplesmente escutá-lo, entre memórias de canções, páginas amareladas, defesas da verdadeira era de ouro da música, do cinema, da publicidade, da comunicação, dos casos, dos costumes... Da vida.

A sempre-companhia de Dorvina, a cor das tardes invadindo a sala, a disposição permanente para compartilhar seus saberes e guardados com jornalistas, pesquisadores, estudantes e com quem quer que passasse pela porta, recebido com a mesma verve e a mesma entrega de quem parecia querer convencer o mundo de sua forma especial de ver a realidade - ao mesmo tempo, nada tendo a prova a ninguém.

Christiano Câmara, referência internacional para pesquisadores e historiadores, fará falta principalmente a quem se acostumou com seu sorriso e sua testa franzida, na retórica apaixonada que foi sua maior marca, entre as coisas que com ele aprendemos nos discos, filmes, revistas, fotogramas repartidos e, sim, mais recentemente, nos arquivos da "Infernet", como dizia. Sem a voz de Christiano a bradar em alto volume, quixote contra os moinhos de um mundo de memória curta, nos resta a saudade, vestida de silêncio.

Fabiano dos Santos
Secretário da Cultura do Estado do Ceará

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