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Gervásio Baptista.
Fui - em companhia dos queridos Hermínio Oliveira e Silvestre Gorgulho - visitar o velho amigo Gervásio Baptista, hospedado há dois meses no Centro de Convivência Para Idosos, na cidade-satélite de Vicente Pires, em Brasília.
Na ida, ainda no carro, pus-me a relembrar de quantas coberturas por esse mundo a fora fizemos juntos. Das viagens nos confins da Amazônia e nos sertões do Nordeste do Brasil aos palácios de Lisboa, Londres, Paris, Washington; do dia-a-dia no Planalto e Alvorada ao inesperado de inúmeras reportagens; da monotonia das matérias no Supremo Tribunal Federal à agitação dos grandes estádios de Copas do Mundo, Jogos Olímpicos; dos campinhos de terra do interior aos maracanãs, etc etc.
Ao chegarmos, lá estava nosso querido amigo. Aos 93 anos, vigoroso como sempre. Elegante. Camisa polo com colarinho abotoado, paletó, barba feita e o sorriso maroto de baiano criado no Rio. E no mundo. Indaguei-lhe das novidades. Contou-me ao pé-do-ouvido dois ou três fuxicos de outros hóspedes. Depois, perguntou-me:
- Cadê sua Leica nova? Posso mostrar a vocês como estou atualizado com as câmaras digitais? Pensam que só sei fazer clics com Rolleyflex, Hasselblads, Canons e Nikons?
Na mesma hora, passei-lhe minha máquina. O danado não perdeu tempo. Colocou-a no olho esquerdo e, com a mesma firmeza de outrora, apertou o disparador, essa foto aí. Ao fim da sequência, disse-nos de sua eterna satisfação, a de fotografar. Relembrou ao seu antigo colega da revista Manchete, o Hermínio Oliveira, de alguns episódios com seu Adolpho Bloch. Contou novamente ao Silvestre Gorgulho das fotos que fez de Juscelino Kubitschek, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa no início da construção de Brasília.
E a mim, trouxe de volta os tempos de O Globo, Veja e Jornal do Brasil, falando de coberturas em que estivemos lado a lado, de fotógrafos com quem trabalhamos ao longo de anos: Jáder Neves, Walter Firmo, Evandro Teixeira, Jean Manzon, Roberto Stuckert, Nicolau Drei, Erno Schneider, Jankiel Gongzarowska...

Batistinha, como ele refere a si mesmo fez misérias nessa vida de fotojornalista. Você nem imagina. Brigou com o presidente Dutra. Saiu no tapa com o lendário delegado Padilha, no Rio. Era amigo de Marta Rocha. Esteve no Vietnã durante a guerra. E ainda tomava umas e outras na noite da Lapa com Kid Morengueira, o sambista Moreira da Silva. Fotografou JK visitando Brasília escondido dos milicos. Era capoeirista. Jogou capoeira com Mestre Pastinha do Mercado Modelo, em Salvador. Fez a polêmica foto de Tancredo cercado pelos médicos antes de ser transferido do Hospital de Base de Brasília para o São Paulo.

Um momento de muita emoção: resolvi abrir o Google Image e mostrar a presença dele na profissão. Tadinho. Não disse nada enquanto deteve atenção à telinha do meu bravo aparelho celular. Mas vi que uma lágrima correu-lhe o rosto.

Ficou feliz com o livro que Silvestre Gorgulho lhe fez de presente. E com a ampliação da imagem dele, Gervásio Baptista, com o presidente José Sarney, de quem foi fotógrafo oficial. Pediu-nos que levássemos agradecimento a Ricardo Noblat, aos Stuckerts e tantos amigos que sempre vão visita-lo no Espaço Sênior, desde que ficou viúvo da Ivete.
Grande fotógrafo, sujeito positivo aquele Gervásio. Franco, generoso, pacificador, ponderado, espírito colaborador, bem-humorado, alma leve, Sabe piada de todo tipo de gente: senador, ministro, português, maluquete, preguiçoso, gaúcho... Sempre tem anedota adequada para amenizar situações tensas que um jornalista enfrenta no front da notícia. E mais, sabe cantar os melhores boleros de Nelson Gonçalves.


Pompeu Macario Batista
 Grande parceiro. Grande ser humano., Maravilhoso profissional. Posso contar uma história com ele? Sei que é muito atrevimento, mas conto. Tancredo Neves recebera, há instantes, o capelo de Doutor Honoris Causae em Coimbra. Todo mundo proibido de entrar. Só os registros da Universidade nos seriam fornecidos depois. Gervásio de fora, num longo corredor. Estudante de capa preta era o pau que rolava. Dr. Tancredo um deus. Um fuxico só. No meio da turba Tancredo sorridente. Desesperado, Gervásio subiu num parapeito e deu-se a gritar: Dr.Tancredo, pare pra mim. Dr.Tancredo, pare pra mim. Dr.Tancredim, é o Gervásio! O Gervasim Batista da Manchete. Tancredo ouviu. Eu ouvi, estava ao lado. Tancredo parou, abriu os braços, a turba afastou e falou: Diga Gervásio. E deu a primeira página da manchete pro querido amigo. Eu estava lá.
Pompeu Macario Batista
Pompeu Macario Batista Ei, Orlando, cada vez mais quero bem a você. Mais que gostar de você é uma honra ser seu amigo.
Orlando Brito
Orlando Brito Pompeu Macario Batista, o mesmo digo eu para você, meu caro amigo. Super 2016. Abraço

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