Deu nos jornais. Mas, cadê os nomes?


PF prende 21 pessoas envolvidas em rede de tráfico
A Polícia Federal (PF) desarticulou, na manhã de ontem, a maior organização criminosa especializada em tráfico de drogas que fazia a rota Bolívia/ Ceará – Rio Grande do Norte / Europa). A Operação Cardume, como foi denominada, teve como objetivo o cumprimento de 15 mandados de prisão preventiva, 13 de prisão temporária, 22 de condução coercitiva e 51 de busca e apreensão, bloqueio de contas de pessoas físicas e jurídicas, além de sequestro de bens móveis e imóveis. A desarticulação resultou, ainda, na identificação de seis pessoas que teriam sido beneficiadas no esquema de habeas corpus nos plantões do Tribunal de Justiça do Ceará.
As investigações foram iniciadas em outubro de 2013 e os mandados foram cumpridos nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Ceará. No Estado, a operação foi deflagrada em 19 municípios cearenses como Fortaleza, Caucaia, Trairi, Camocim e Tianguá. Até o momento, foram confirmadas 14 prisões preventivas, 12 temporárias, 18 conduções coercitivas, 54 mandados de busca e apreensão, 118 bloqueios de contas, 15 veículos de luxos apreendidos, quatro flagrantes por posse de produtos químicos, mais de uma tonelada de cocaína, 300 quilos de substâncias químicas, apreensão de meio milhão de reais e interdição de dois laboratórios de crack, em Fortaleza, e um de refino em Portugal.

Rota
De acordo com o delegado de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Jardelyer Gomes, responsável pela investigação, a droga era adquirida na Bolívia e entrava no Brasil, em aviões monomotores, e levada aos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Depois, era encaminhada ao Ceará e Rio Grande do Norte. A cocaína chegava camuflada dentro de caminhões de combustíveis. Do Rio Grande do Norte, a droga era comercializada, e no Ceará, os traficantes exportavam para Itália e Portugal, dentro de garrafas de cachaça, que saíam do Aeroporto Internacional Pinto Martins.
A organização envolvia quatro núcleos: o tráfico internacional, o tráfico interestadual, a lavagem de dinheiro e empresários que forneciam insumos químicos para organização. Os traficantes ficavam no Ceará e Rio Grande do Norte, no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Conforme a Polícia Federal, são pessoas envolvidas no recebimento e transporte da droga. O núcleo focado na lavagem de dinheiro tinha base operacional no Paraná e Rio Grande do Sul.
“Os alvos [da operação] são traficantes de grande potencial econômico. Os chefes da organização criminosa são aqueles que comumente não tocam na droga, se disfarçam como empresários que aplicam o capital dos entorpecentes em empreendimentos”, afirma Janderlyer Gomes.
Conforme Janderlyer, os 300 quilos de cocaína apreendidos representam bem menos do que a organização criminosa movimenta. “Essa organização movimentava 300 quilos de cocaína por mês. Para que a droga chegasse a Portugal, por via aérea, era camuflada em garrafa de cachaça”. Em Setúbal, a rede possuía um laboratório de refino, onde a droga passava por outro processo para retornar ao estado original.

Em tempo
O nome da operação tem a ver com a questão da lavagem de dinheiro. Um dos alvos principais, para lavar o dinheiro do tráfico, investia na criação de peixes, no interior do Ceará. “No início, a gente acreditava que esse era o cabeça e depois a gente viu que não, que existiam outros traficantes em camadas mais superiores, um no Ceará e outro no Rio Grande do Norte”. Os chefes foram presos.
No esquema de lavagem de dinheiro estão envolvidos empresários no ramo de revenda de veículos, de celulares, farmacêuticos, construção civil, criação de cavalos e piscicultura. No Ceará, os principais são da construção civil.
Venda de habeas corpus
Desde o início da Operação, em 2013, as investigações apontaram para outro esquema criminoso, a venda de habeas corpus nos plantões judiciais no Tribunal de Justice do Ceará (TJCE). Em fevereiro de 2014, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) começou a apurar as acusações de que desembargadores estariam negociando liminares e cobrando R$ 150 mil. O então presidente do TJCE, Luiz Gerardo de Pontes Brígido, admitiu, em abril do ano passado, que o esquema acontecia desde 2011.
Há informações de que traficantes de outros estados queriam ser transferidos para o Ceará, devido à negociação de liminares no Judiciário cearense. A Polícia Federal batizou a operação de Expresso 150, em alusão ao suposto valor cobrado pelos habeas corpus.
Segundo Wellington Santiago da Silva, delegado regional executivo da Polícia Federal, a Operação Cardume resultou na prisão de pessoas que estão em camadas mais superiores da organização criminosa. Dentre elas, seis teriam sido beneficiados com a venda de alvarás de soltura. “Nesse caso da Operação Cardume, foram seis beneficiados com a venda de alvarás. Cada decisão negociada no valor de R$ 150 mil engloba tanto o núcleo de traficantes, como de advogados também envolvidos nessa investigação. Essas pessoas tinham participação expressiva dentro da organização criminosa. Agora, muitos deles foram presos em flagrante pela PF no decorrer da própria operação”, relatou Santiago.  
Ainda de acordo com Santiago, os envolvidos na Operação Expresso 150 vão responder por tráfico internacional de entorpecentes, associação criminosa e outros delitos que sejam identificados.  “São três desembargadores investigados pela Operação Expresso 150, e a princípio esses três estariam relacionados a essas decisões em favor de parte do grupo que está sendo investigado nessa ocasião. Eles tinham conhecimento, sim. O principal está afastado desde início da Operação, os outros dois são sendo investigados. Um deles, no decorrer das investigações pediu aposentadoria, mas todos estão sendo investigados pelo CNJ”, destacou o delegado.
Em nota, o TJCE afirmou que “não há nenhuma informação ou notificação por parte da Polícia Federal a respeito da chamada operação “Cardume”, sendo certo que o Tribunal de Justiça, caso venha a ser formalmente instado, contribuirá com quais solicitações forem feitas pela Polícia Federal, no sentido de facilitar as investigações”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário