Opinião

Panelaço importado: arremedo de consciência política

Mônica Francisco

Em alguns lugares da cidade, majoritariamente as ocupadas pelas camadas médias e altas da sociedade, se ouviu o soar das panelas. O "panelaço", importado da Argentina, foi um constrangedor arremedo de consciência política.
Há muito, as ruas e o povo do Brasil real (aquele que costuma usar panelas para seu devido fim), tem cobrado uma mudança profunda na forma de fazer política por aqui. Mas o que vemos não é um clamor por mudanças profundas e estruturais, por aumentar as possibilidades entre os que têm menos, para que alcancem mais e se apropriem de mais direitos.
Não é eco do clamor para que a democracia se fortaleça, para que o racismo institucional deixe de operar de forma vertiginosa o desaparecimento de forma violenta e sistemática, um número cada vez mais alarmante de jovens negros e pobres (durante o arremedo de desejo de mudança, as favelas do Complexo do Alemão tremiam com a guerra e a chuva de balas, produzindo mais mortos de fato e agonizantes de esperança).
Não é o anseio de uma educação que funcione, seja para todos e oportunize a todos, lugares melhores nos postos de trabalho. Não é o desejo da Universidade para todos, da pesquisa de excelência, que nos levaria a patamares inimagináveis, comparando com o que temos hoje, e ainda assim com a abnegação de alguns, conseguimos até aqui.
Os ecos são do Brasil oficial, desesperado pelo medo de perder privilégios, pelo pavor de dividir espaço com quem julga não merecer espaço comum aos seus, senão quando os(as) servem.
Que se indignam ao sentar nos mesmos bancos que os filhos do Brasil real. Que não toleram porteiro que compra apartamento no mesmo prédio em que trabalha e que tem ânsias só de pensar em dividir o mesmo condomínio com a manicure.(Não é suposição, é real, haja visto a declaração de atriz famosa em programa de variedades matutino de jornalista famosa).
Se é para passar o Brasil a limpo, vamos então, de verdade, vasculhar os porões dos registros de imóveis, da origem de algumas riquezas, abrir a caixa preta das concessões em todas as áreas. Como diz a canção, "fazer limpeza no armário e retirar traças e teias". Vamos produzir um Brasil limpo de verdade.
         
"A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não aos Autos deResistência, à GENTRIFICAÇÃO, à REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL , ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL,ao VOTO OBRIGATÓRIO, ao MACHISMO, À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER e à REMOÇÃO!"
*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do GrupoArteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.(Twitter/@ MncaSFrancisco)

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