Opinião

Começou quando? Agora?

Assys Calvett
Folha de S. Paulo informa neste domingo (9) que, preocupado com a imagem da empresa, Emilio Odebrecht já teve várias conversas com Lula e também com Fernando Henrique Cardoso. Seu filho, Marcelo Odebrecht, presidente da empresa, está preso. Histórias que o Brasil precisa saber falam que a Petrobras teve a corrupção instalada recentemente. Conexões antigas denunciam a idade dos casos?
O Brasil precisa ouvir, também, histórias como a do senhor Atan Barbosa, ou de José Rubens Goulart Pereira, que foi da Andrade Gutierrez e da Galvão Engenharia. Tem que saber quem colaborou com a Operação Patrícia -- Interbrás --; ter conhecimento dos aditivos de Angra 3; se presidentes da Petrobras de outras gestões conseguem comprovar suas fortunas. Precisa ter conhecimento dos fornecedores do campo de Marlin. Urge saber se todos os corruptos e esquemas já conhecidos foram parar no fundo de pensão da Petrobras.
O jornalista Paulo Francis já havia afirmado em 1997 no programa Manhattan Connection que existia esquema de roubalheira na Petrobras. Ao contrário de ver o início de uma investigação séria sobre a acusação, foi o próprio condenado em um processo de US$ 100 milhões. Como explicar a omissão e o desfecho desta história?
O depoimento do ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, afirmando que começou a receber propina "por iniciativa pessoal", em 1997, trouxe à tona suspeitas muito mais sombrias do que as que ganham o holofote fácil da grande mídia.
Um dos casos antigos que envolvem a Petrobras aconteceu há quinze anos, durante o governo de FHC, "o mais ruinoso negócio da história da empresa: uma troca de ações entre a estatal brasileira e a espanhola Repsol", conforme lembrou Paulo Moreira Leite em artigo publicado. A Petrobras entrou com bens avaliados em US$ 3 bilhões, recebeu US$ 750 milhões, em um prejuízo quatro vezes maior do que a usina de Pasadena. O processo parado no STJ não apontou responsáveis nem condenou ninguém.
Outras histórias, que circulam fora do alcance do debate público, dão conta que se um dos diretores da Andrade Gutierrez que estão presos hoje fizer delação premiada, um estado do Brasil pode ver seus políticos ficarem sem mandato.
Mas ligações e culpados também podem surgir de casos mais antigos. O ex-governador da Bahia, Nilo Coelho, em 1991, por exemplo, foi denunciado pelo seu sucessor no governo, Antônio Carlos Magalhães, que levantou suspeitas sobre relação com empreiteiras já naquela época. Em agosto daquele ano, Antônio Carlos Magalhães entregou ao procurador-geral da República, Aristides Junqueira, uma série de documentos que comprovavam as denúncias de corrupção levantadas por ele sobre Nilo Coelho, que nunca foi condenado, mas teve que repor depois aos cofres públicos a quantia de US$ 13 mil, por estadia em SPA, e de 4,3 milhões de cruzeiros reais pela festa de réveillon realizada por ele em 1990.
Outro caso antigo envolve a Andrade Gutierrez. Em 2001, o então presidente da construtora Andrade Gutierrez, José Rubens Goulart Pereira, foi dado como morto em uma falsa nota fúnebre publicada em jornais brasileiros, em dois momentos no mesmo ano. Goulart Pereira está vivo até hoje, e em atividade. Roberto Amaral, ex-executivo da empresa e apontado como padrinho profissional de Goulart Pereira, que estava afastado da AG desde maio de 1998, foi o autor das notas. Diretores da empresa disseram na época que Amaral fez o que fez para se vingar do pupilo. Na época, coluna de jornal brasileiro noticiou que Amaral era considerado um dos mais influentes lobistas que o Brasil já teve, que fazia a ponte da Andrade Gutierrez com amigos como PC Farias, Jânio Quadros, Orestes Quércia e uma figura influente na área da Fazenda do governo Collor.
O primeiro anúncio fúnebre falso, publicado na sexta-feira 13 de julho, decretava a morte de Goulart Pereira. O segundo, impresso em jornais do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, convocava para a "missa de quinquagésimo dia in memoriam de José Rubens". Amaral era sócio da empresa RV Consultoria e Participações Ltda., que assumiu responsabilidade legal pela divulgação das duas notas. Goulart Pereira, que depois trabalhou na Galvão Engenharia, hoje estaria na Companhia de Águas do Brasil - CAB Ambiental. Ele assumiu em maio deste ano o cargo de vice-presidente do Conselho de Administração, declarando "não estar incurso em qualquer crime".
A mensagem cifrada das notas fúnebres falsas chamou a atenção até da justiça. Um dos anúncios diziam que estavam presentes à "missa" os donos da Andrade, Gabriel e Sérgio Andrade, que "lideraram, com fervor, o entoar de um salmo em louvor e solidariedade ao dr. Paulo Maluf e seu filho Flávio"; e "fizeram penitência pedindo perdão a Orestes Quércia". Chamava Goulart Pereira de "Dolly", uma referência à ovelha clonada. Ao referir-se aos nomes de Quércia e do ex-prefeito Paulo Maluf, Amaral deu a entender que estaria disposto a destampar segredos. O texto também dizia que Goulart Pereira era um "grande escritor de inúmeras cartas, nas quais expunha sua sempre constante lealdade e gratidão".
A ameaça do empreiteiro suscitou a abertura de uma investigação pelo Ministério Público de São Paulo e apavorou a diretoria da Andrade Gutierrez e políticos no eixo São Paulo--Brasília naqueles anos. Histórias que o Brasil precisa saber ainda não incluíram o desfecho desta e de tantas outras que escapuliram mas foram ignoradas.

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