Opinião
O principal fato da sessão desta terça-feira, da prevista
“acareação” entre os “delatores premiados” Alberto Youssef e Paulo
Roberto Costa, na CPI da Petrobras, da Câmara dos Deputados, talvez não
mereça muito espaço nas manchetes desta quarta.
Não
bastando o constante vazamento, quase sempre seletivo, sobre
suposições, ilações, delações “premiadas”, subjetivas, inaugurou-se
ontem, no âmbito da Operação Lava-Jato - em mais um exemplo de que o uso
do cachimbo faz a boca torta - o instituto do “vazamento futuro” de
delações, ilações, suposições, em um espetáculo onde quase tudo é
suposto e subjetivo, menos o alvo final do processo.
Por
isso, mesmo que com mais buracos que um queijo suíço, nessa operação já
não espanta o enredo conhecido, caracterizado por "revelações" feitas a
conta-gotas, acompanhadas, na maioria dos casos, pela gritante ausência
de provas inequívocas, que está voltado, como na fábula do Lobo e do
Cordeiro, para derrubar o governo a qualquer preço, seja qual for a
justificativa.
O
que mais surpreende, agora, é o descaramento com que surgem as
"revelações" dos "delatores”, a ponto do Sr. Alberto Youssef, por
intervenção ao pé do ouvido de seu advogado, voltar à pergunta
anteriormente feita pelo relator da CPI, sobre o repasse de recursos
para a campanha presidencial da Presidente da República - o ponto
nevrálgico que se pretendia esclarecer com a "acareação" de ontem -
retomando a sua negativa de que esse repasse tenha ocorrido por meio de
seu intermédio, para fazer o premonitório anúncio - como se quisesse se
justificar por não estar acusando diretamente o governo - de que "tem
outro réu colaborador que está falando sobre esse assunto e assim que
essa colaboração for noticiada vocês vão saber realmente quem foi que
pediu o recurso e quem repassou o recurso... Logo vai ser revelado e
esclarecido esse assunto".
Ora,
ao fazer, com tom de porta-voz oficial, esse anúncio, o Sr. Alberto
Youssef já antecipa o que irá ocorrer a seguir, no próximo capítulo
desse ramal da Operação Lava-Jato, desfazendo o teatrinho da suposta
contradição entre seus dois mais conhecidos “bandidos-delatores”.
Ele
sinaliza, convenientemente, aos presentes, à oposição, à imprensa, que
alguém já estaria “falando", ou melhor, que alguém logo irá dizer que
foi feito o repasse e a pedido de quem ele teria sido feito.
E
dá a entender que essa pessoa também irá confirmar, eventualmente, seu
valor, retirando o ônus, a missão, o papel, de fazer ou comprovar essa
acusação, dos ombros dos dois delatores presentes ontem na CPI, e,
principalmente, do próprio Youssef, que não poderia fazê-lo sem o
risco de desmentir suas declarações anteriores.
Revelado,
de forma pública e cristalina, no palco da CPI, qual será o próximo
passo - Gilmar Mendes trabalha junto ao TSE e os adversários do governo
também o fazem em outra frente, no contexto do TCU - o que importa não é
saber o que foi dito, mas o que não foi dito pelo delator-doleiro - o
que está por trás da orientação recebida de seu advogado, cochichada,
naquele particular momento, diante das câmeras.
A
pergunta para a qual se deveria esperar pronta resposta, é como um réu,
já condenado, prestando depoimento, sabe - por meio de "vazamento
interno", que será feita - em suas próprias palavras alguém "já estaria
falando" - uma nova delação premiada, quem estaria fazendo essa
delação premiada e qual será o teor dessa declaração, a ponto de
antecipá-la descaradamente em plena Comissão Parlamentar de Inquérito.
Ao
afirmar, olimpicamente, que "assim que a declaração for revelada vocês
vão saber", Youssef provou que teoricamente tem acesso, atrás das
grades, a um grau de informação muito maior do que têm, jamais tiveram,
os membros da Comissão na qual estava sendo interrogado, e não apenas
sobre o seu próprio processo, mas sobre a operação como um todo.
Mas,
mesmo assim, ele sequer foi inquirido, imediatamente, a propósito de
como e por meio de quem teve conhecimento dessa suposta futura delação,
que estaria prestes a ser revelada nas próximas semanas.
Quem disse ao advogado do Sr. Alberto Youssef que um outro "réu colaborador" já estaria “falando" sobre esse tema?
O
advogado do Sr. Alberto Youssef é o mesmo desse suposto novo delator
"premiado" que irá, segundo o próprio doleiro, confirmar que houve o
"repasse"?
Nesse
caso, o advogado estaria, eventualmente, combinando com seus dois
clientes (se não estiver assistindo a mais réus, ainda, no âmbito do
mesmo caso) quem deveria falar o quê e o que deveria ser dito?
Ou,
não sendo o advogado do Sr. Alberto Youssef o mesmo advogado do réu que
já estaria "falando" sobre esse assunto - principal "motivo" da
acareação de ontem - de quem teria o advogado do Sr. Alberto Youssef
obtido essa informação ?
Do advogado do outro?
Justificando,
assim, a suspeita de que os depoimentos, "vazamentos", "revelações", e
"delações premiadas" poderiam estar sendo combinadas, manipuladas,
"coordenadas", entre os diferentes acusados por meio de seus advogados?
Ou teria o advogado do Sr. Alberto Youssef obtido essa informação, prévia ou “premonitória”, do juiz Sérgio Moro?
O
que, em caso afirmativo, poderia comprovar, eventualmente, a existência
de inaceitável grau de intimidade entre um e outro lado do processo, o
juiz e alguns dos réus e seus advogados, de uma forma que poderia levar
ao comprometimento da lisura da Operação Lava-Jato?
Salvo
Alberto Youssef e seu advogado tenham desenvolvido poderes
adivinhatórios, são essas perguntas que poderiam estar sendo feitas por
membros do Conselho Nacional de Justiça e do próprio STF neste momento, a
propósito da sessão da CPI da Petrobras de ontem.
Mas além disso, há espaço também para uma outra indagação, que também merece resposta:
Por
qual razão essa suposta futura "delação premiada", que será, segundo
Alberto Youssef, em breve, revelada, só está sendo feita agora,
justamente neste momento, em que, nesse caso de suposto repasse de
recursos para a campanha presidencial de Dilma Roussef, chegou-se, pela
própria "contradição" dos dois principais delatores “premiados” a um
impasse ?
Outro
que anda premonizando coisas - além do próprio juiz Sérgio Moro, que,
mesmo sem contar com precorgs, andou adotando as táticas do filme
Minority Report, ambientado em Washington, DC, do ano 2054, para prever e
impedir antecipadamente crimes, prendendo executivos para impedir que
suas empresas participassem de licitações sequer ainda oficializadas - é
o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.
Reunido
ontem, com aliados, ele afirmou que o Presidente do Senado, Renan
Calheiros, “aparecerá em delações premiadas” nas “próximas semanas”, no
que tem provavelmente razão, já que vivemos em uma República em que
qualquer um pode acusar qualquer um, a qualquer momento, impunemente,
de qualquer coisa, independentemente de ser por moto próprio ou por
estar ou não a serviço de terceiros, usando para isso pretextos
paralelos (como transformar automaticamente uma coisa em outra, do tipo
doação de campanha em propina) sem necessidade de provas que sustentem,
inequivocamente, suas alegações.
Nessa
sequência - que às vezes parece muito bem estruturada - de ilações,
delações, “colaborações”, distorções, e, presentes e futuras,
“adivinhações”, a única coisa verdadeiramente inequívoca, são os
deletérios efeitos, diretos e indiretos - para gaudio dos que torcem
pelo “quanto pior melhor” e contra o país, a atividade política e a
democracia - de uma “operação” que, ao que parece, pretende
prolongar-se indefinidamente nos próximos anos, transformando-se, de
fato, em um “quinto poder”, dentro do Estado, cada vez mais
independente e acima dos outros.
Uma
operação que poderia estar sendo dirigida apenas contra os corruptos,
que no final, como no caso de Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa,
estão sendo quase todos “premiados” - mas que, ao decidir castigar,
punitivamente, com o látego dos deuses, algumas de nossas maiores
empresas, está desmantelando amplos e estratégicos setores da vida
nacional.
Nas
áreas de infra-estrutura e construção pesada, da industria de petróleo e
gás, da indústria naval, e, principalmente, da indústria bélica, com a
eliminação de milhares de empregos, a provável falência de empresas como
a AVIBRAS e a paralisação de programas em que o país já investiu
bilhões de dólares, e o precioso trabalho de toda uma geração de
valorosos planejadores, engenheiros e técnicos de nossas forças armadas,
a percepção, quase certeza, é uma só, sem a necessidade de dons
premonitórios:
A
Operação Lava-Jato - sem resolver definitivamente o problema da
corrupção, que não poderá ser sanado sem uma reforma política de verdade
- já está provocando um prejuízo dezenas de vezes maior do que o
dinheiro que recuperou até agora, e irá deixar como herança, direta e
indireta, um atraso que será nefasto, irrecuperável, nas próximas
décadas, do ponto de vista do ingente esforço, realizado, a duras penas,
por vastos setores da sociedade brasileira, para a inserção
estratégica, tecnológica, soberana e competitiva do Brasil entre as
maiores nações do mundo.acima
de tudo, pode - lembrando que uma Suprema Corte julga para a
posteridade - fazer justiça, evitando que uma "lei", do jeito que está,
totalmente "flexível" e "camaleônica", seja aplicada a qualquer cidadão
sem nenhuma regra comum de definição do "crime", ou de isonomia, tendo
como único e exclusivo critério o humor circunstancial, o estado de
espírito, o que estiver passando pela cabeça, o único arbítrio, e,
eventualmente, os interesses pessoais, subjetivos e difusos, de quem a
estiver aplicando - detendo, punindo, "julgando", levando, quase que em
última instância, à condenação, para efeito prático, do usuário - no
momento do "flagrante".
Mauro Santayna é jornallista e meu amigo.
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