MPF recebe 614 ossadas de possíveis vítimas da ditadura
O Ministério Público Federal (MPF) recebeu no último sábado (15) as 614
ossadas que estavam em vala clandestina do cemitério de Perus, na zona
noroeste da capital paulista. Os restos mortais de possíveis
desaparecidos políticos da ditadura ficarão armazenados em sala-cofre no
subsolo do MPF em São Paulo até que a reforma no laboratório da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) esteja concluída, e as
ossadas possam ser transferidas para a instituição.
No laboratório da universidade, já há 433 ossadas, o que fez atingir a
capacidade máxima do local, que só deve ser ampliada após a reforma. O
conteúdo de 385 caixas já foi aberto e verificado. Por meio de análise
antropológica, arqueólogos estimaram o perfil biológico das ossadas,
como sexo, estatura, faixa etária e possíveis traumas.
Do total já verificado, 85% são ossadas do sexo masculino. Existe
também um percentual de 5% de crianças. Em 22% das caixas havia mais de
um indivíduo, o que significa que o número de pessoas a serem
identificadas pode ser maior que o estimado. Participam do trabalho de
identificação arqueólogos, médicos, dentistas e geneticistas da Unifesp.
Laboratório
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Segundo o ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República Pepe Vargas, o ministério está em processo de contratação de
um laboratório internacional que também se dedicará à análise genética
das ossadas. O valor a ser gasto gira em torno de R$ 2 milhões.
O Cemitério Público Municipal de Perus foi usado durante a ditadura
para enterrar secretamente militantes políticos assassinados e outras
vítimas de violência no regime. “O direito à memória é fundamental e
deve ser garantido pelo Estado e pela própria sociedade. A busca da
verdade é tarefa fundamental de um estado democrático. Isso é
fundamental tanto para que a sociedade compreenda a forma como a
repressão se estabeleceu, quanto para que isso não se repita”, declarou o
ministro.
O cemitério foi inaugurado em abril de 1971. Algumas ossadas foram
descobertas na década de 1990 pelo Departamento de Medicina-Legal da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 1992, foram
identificados dois presos políticos cujos restos mortais estavam na vala
clandestina de Perus: Dênis Antônio Casemiro e Frederico Eduardo Mayr.
Naquela época, foram encontradas mais de mil ossadas enterradas na vala
clandestina, colocadas em 1.049 caixas.
Em 2014, foram transferidas 433 ossadas para o laboratório da Unifesp,
mas a permanência das 614 ossadas no cemitério ainda preocupava o Grupo
de Trabalho de Perus. Na sala-cofre do MPF, segundo a procuradora
regional da República Eugênia Gonzaga, que também é presidente da
Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, as ossadas
ficam seguras e armazenadas com a climatização e umidade adequadas.
A estimativa é que a identificação dos restos mortais feita pela
Unifesp e pelo órgão internacional a ser contratado termine até o final
de 2016.
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