Além do previsto
Tremei,
cidadãs e cidadãos. Já não bastam as vozes do impeachment, a fúria dos
bolsonaros, a pauta-bomba de Eduardo Cunha que não é para a Câmara mas
sobre o país. Nem bastam as manifestações programadas pelo SOS Militares
e pelo PSDB de Aécio, nem mesmo a Lava Jato. Tremei cidadãs e cidadãos,
que além do mais, e sobre todas as coisas, faz agosto.
Se
em melhor tempo alguém, nestas páginas, concluiu que a solução para
Dilma é a que Getúlio se deu, não por acaso em certo agosto, não é
exagero que o novo agosto chegue anunciado por uma "bomba caseira"
lançada no Instituto Lula. Bombas são assim domesticamente inofensivas,
"caseiras", até que matam uma dona Lida, uma criança na calçada, ou
moradores de rua, que para eles o azar não tem fim. Bombas não costumam
ser solitárias. É bem possível que a bomba de agora seja vista, depois,
como um ponto inicial. Nem sugiro de quê.
No
agosto tão previsto surge, porém, algo que ninguém ousara prever. Por
falta do precedente apesar de todos os agostos. Ou por um saldo de
crença no bom senso onde se teme que falte. O imprevisível foi trazido
pelo jovem procurador Deltan Dallagnol, um dos cruzados e porta-voz da
Lava Jato.
Seria
no máximo extravagante o enlace entre exposição dos feitos da Lava Jato
e a oração que Dallagnol fez, para seus irmãos de fé, em uma igreja
batista no Rio –com convite a jornalistas para a conveniente propagação
da mensagem. A da fé aliada à Lava Jato ou só a outra, não se sabe. A
outra que, ficou claro, foi uma das finalidades da assembleia, senão "a"
finalidade da exposição entremeada de citações bíblicas: Dallagnol
pediu que seus irmãos de fé acompanhem a página de determinado pastor na
internet, que difunde o espírito cruzado da Lava Jato. E foi mais
longe: concitou à mobilização dos crentes para uma agenda de
manifestações "contra a corrupção". Entre elas, uma pregação que se
pretende de âmbito nacional.
Quando? No 16 de agosto que os pregadores do impeachment de Dilma escolheram para voltar à rua.
Deltan
Dallagnol fez a palestra na condição de participante de inquéritos da
Procuradoria da República e de integrante da chamada Operação Lava Jato.
Sua exposição e os gráficos exibidos foram os mesmos feitos dias antes
na TV, sem as conotações religiosas e sem a convocação. Como porta-voz
da Lava Jato em ambas, na segunda exposição pôde fazer o que na anterior
não cabia: a convocação que expressa uma definição política e o
propósito do grupo de trabalho que ele integra. Tanto que nenhuma voz
desse grupo tomou a providência de retificá-lo na definição e na
incitação que fez, e que muitos meios de comunicação noticiaram.
Por
meio de Deltan Dallagnol, a Lava Jato se assumiu como ação política –o
que os princípios e os fins da Procuradoria da República não admitem.
A RE-UNIÃO
Apesar de tudo, agosto promete alguma diversão.
Os
adeptos do impeachment dividiram-se depois da reunião de Dilma com os
26 governadores e o governador do DF. Uns silenciaram sobre o resultado,
para poderem falar em derrota de Dilma. Outros, como Aécio e a cúpula
do PSDB, perderam a voz. Mas o fato é claro: Dilma teve uma vitória
política, talvez muito além da esperada.
Foi
um jogo de alto risco para os dois lados. Não seria surpreendente que
se apresentasse uma dissidência entre os governadores, recusando as
propostas de Dilma e inutilizando a reunião. Para os governadores, o
risco está no teste que aceitaram, ao comprometer-se a tanger suas
bancadas para o apoio, no Congresso, à contenção de gastos e à derrubada
dos novos e altos gastos aprovados por comando de Eduardo Cunha. Os
governadores apostaram na sua duvidosa força política.
Embates
em vários Estados, embates na Câmara entre os cumpridores do acordo
feito no Planalto e o desacordo total anunciado por Eduardo Cunha e sua
pauta-bomba. Até lá, vigora a imagem de rara unanimidade entre os 27
governadores.
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