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Nova praça remove absurda homenagem ao dia do golpe dos generais

Da Coluna Política, no O POVO deste sábado (25), pelo jornalista Érico Firmo:
Enquanto praticamente todos os países da América do Sul que atravessaram ditaduras militares há anos julgam e punem os responsáveis por crimes cometidos com o uso da máquina governamental, o Brasil ainda ostenta homenagens ao golpe e ao regime arbitrário. A inauguração da nova Praça da Paz Dom Hélder Câmara, na Praia do Futuro, remove a antiga denominação de praça 31 de Março, absurda homenagem ao dia do golpe dos generais. É ótimo, mas ainda é pouco. Ainda há espaços públicos aos montes que remontam ao brutal regime político que suprimiu liberdades e perpetrou o arbítrio por duas décadas.
Avenidas, ruas, escolas ainda homenageiam os ditadores. O próprio gabinete do governador fica a alguns metros do monumento em homenagem ao primeiro dos presidentes do regime militar. Ficam ambos no complexo arquitetônico do palácio que leva o nome de Abolição, em referência ao pioneirismo libertador do Ceará. Perpetuar essas homenagens é uma ofensa aos que foram vítimas da violência do Estado brasileiro.
A praça que remetia ao golpe passou a se chamar Dom Hélder Câmara por projeto de decreto legislativo, assinado pelos vereadores Evaldo Lima (PCdoB), João Alfredo (Psol) e Walter Cavalcante (PMDB), este último hoje deputado estadual.
Evaldo, líder do prefeito Roberto Cláudio (Pros), apresentou ainda projeto de decreto legislativo para retirar o nome de Costa e Silva de praça no bairro Henrique Jorge. Ele propôs que o local passe a se chamar praça Pássaros Livres. Na justificativa, o vereador aponta que a proposta surgiu em articulação com moradores da área.
Iniciativas similares ocorrem em outros estados. Do mesmo partido que Evaldo, o governador maranhense, Flávio Dino, encampou iniciativa de mudar nomes de escolas que homenageavam ícones do regime militar. Há exemplos semelhantes mundo afora. Países vizinhos ao Brasil punem seus ditadores. A França, em 2011, removeu o nome da última rua que homenageava o marechal Philippe Pétain – herói da Primeira Guerra Mundial e colaborador da Alemanha nazista na Segunda Guerra.
O Brasil é um país em que a brutalidade é escamoteada. O sangue corre, mas constrói-se o mito de um pacifismo fajuto. Quando a escravidão já estava no limite do esgotamento até como modelo econômico, foi sustentada por décadas em nome de uma transição gradual que custou a vida e a liberdade de gerações. Para sustentar a monarquia, foi necessária sangrenta opressão a revoltas. Para consolidar a República, muito sangue também correu. O próprio processo de independência, tido como pacífico, envolveu mais combatente que as batalhas pela independência da América espanhola. E, na tentativa de reconstruir a democracia, busca-se apagar o inevitável conflito com o arbítrio da ditadura.

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