Produzir leite dá mais lucro do que produzir frutas


Irrigação do pasto fortalece produção de leite no Ceará
De acordo com um levantamento realizado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Ceará (Adece), a produção leiteira em áreas irrigáveis é tão rentável que pode vir a resultar em mais lucros do que com a produção de frutas. Conforme o estudo, a implantação de um módulo de oito hectares - suficiente para 100 vacas e que requer investimento de R$ 279 mil - pode gerar uma receita anual de R$ 51,9 milhões.
A irrigação dos pastos resolveu o problema da dependência de chuvas – bem como a irregularidade delas. Animados, os pecuaristas - notadamente produtores de leite - já projetam um futuro próximo, com 200 mil hectares de pastos irrigáveis. O pastejo rotacionado irrigado é aplicado em mais de cinco mil hectares e representa 25% da produção de leite ofertada no Ceará, que já desponta no ramo de laticínios.

Estímulos
Em 2011, a empresa Danone investiu R$ 60 milhões para reativar uma fábrica no Município de Maracanaú. Já em Limoeiro do Norte, a fazenda Flor da Serra, por sua vez, da empresa Betânia, garante a compra de leite dos produtores associados e um lucro de 30%, o que estimula o aumento na produção de leite.
Pecuaristas de Minas Gerais e São Paulo já compraram lotes no perímetro irrigado de Tabuleiro de Russas. É o caso da empresa paulista Vale do Castanhão, que está investindo mais de R$ 2 milhões em 50 hectares para a criação de 350 vacas. A produção, em 2011, na região, entre agricultura e pecuária, gerou R$ 53,8 milhões, um valor 59% maior que no ano anterior.
Também no mesmo período foram produzidos 43,7 milhões de quilos de frutas, contra 31 milhões de quilos no ano anterior. Isso representa um aumento de 40,9% em relação ao mesmo período. Em cinco anos, esse grande perímetro aumentou em dez vezes o seu Valor Bruto de Produção (VBP). Entre 2000 e 2010, a produção de leite, no Brasil, aumentou de 2,2 bilhões de litros para quatro bilhões.

Potencial
O açude Castanhão fornece os recursos necessários para a implantação da pecuária irrigada, que tem se mostrado uma opção viável para os produtores, recebendo cada vez mais investimentos no interior. O perímetro irrigado do Jaguaribe-Apodi é um dos locais onde problemas como a ausência de tanques e estradas são enfrentados pelos produtores. A irrigação dos pastos otimiza a utilização dos recursos hídricos e reduz a dependência das chuvas.
As vacas criadas em perímetro irrigado estão produzindo mais leite do que nas áreas não irrigadas. Essa revelação é consequência de um projeto inovador no Ceará, de novidade até no nome: pecuária irrigada. No perímetro irrigado de Tabuleiros de Russas, por exemplo, a pecuária leiteira intensiva e semi-intensiva está projetando uma área de 600 hectares para a produção de leite. Os 10% deste espaço já produzidos hoje dão a noção de que pode ser esse o caminho a percorrer. Essa inovação representa mais uma forma de otimização dos recursos hídricos, que não são poucos, alocados para os perímetros irrigados por meio do açude Castanhão.


Pioneirismo
O empresário Luizinho Girão foi o pioneiro na utilização de perímetros irrigados do Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) para a produção de leite. Sua fazenda, Flor da Serra, tem 200 hectares irrigados com quatro pivôs, três mil animais - quase a metade (1,3 mil) em lactação -, currais, ordenhas mecânicas, inseminação artificial e garantia de aquisição do leite a R$ 0,80 o litro - preço que gera 30% de lucro para os produtores parceiros que vendem o leite à Betânia.
Luiz Girão é reverenciado no setor pelas suas investidas visionárias e corajosas. Foi dele, há alguns anos, a iniciativa de fazer “leasing” de vaca: um empréstimo para ser pago com leite, no qual quem recebia o animal tinha a possibilidade de comprá-lo por um valor pequeno ao final de três anos. Girão, que também é proprietário do laticínio Betânia, chegou a alugar 4.700 vacas. Hoje, com seus 1.300 hectares, a Flôr da Serra desenvolve outra experiência que desperta atenção: toda a estrutura da fazenda foi disponibilizada a “parceiros”, que têm como única obrigação vender ao laticínio o leite produzido.
Pastejo rotacionado garante produção contínua
O nome do sistema, que está permitindo aos pecuaristas cearenses produzir leite o ano inteiro, é pastejo rotacionado irrigado. A técnica – que não é nova - consiste em práticas muito simples: fazer com que a cada dia os animais se alimentem de volumoso (capim) em uma área diferente, oferecendo assim pasto sempre novo e nutritivo o ano inteiro. Esse sistema representa muito para os pecuaristas do sertão cearense. Para se ter ideia, com o pasto natural da Caatinga são necessários cerca de 20 hectares para manter apenas uma vaca de leite. Com o pastejo rotacionado irrigado, pode-se criar até 12 animais em lactação em cada hectare.
“O pastejo irrigado assegura capim verde o ano inteiro”, diz o consultor Raimundo Reis. E o capim cresce com vontade no Ceará, por conta da quantidade de sol disponível por ano (300 dias) e da temperatura média constante elevada (30 ºC). Sem muito esforço, quem adota o pastejo rotacionado irrigado está obtendo mais de 100 litros de leite diários por hectare – e a custos bem razoáveis. Na Flor da Serra, alimentar uma vaca com capim irrigado, utilizando pivô central, custa R$ 1,00 por dia. Enquanto isso, o custo por litro é de R$ 0,40.

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