Opinião

VAI-SE O HOMEM FICA A CHAMA
GERVÁSIO DE PAULA 

O saudoso mestre Américo Barrreira ( 1914 – 1993 ) diplomata do municipalismo brasileiro, quando eu editava, com o desenhista e artista plástico Audifax Rios ( 1946 – 2015 ) a Revista dos Municipios, sob sua responsabilidade juridica, dizia-nos : -- “ Jovens, não se iludam, o Ceará ---- pela indiferença dos paspalhões da sociedde de meia dúzia de granfinos --- é o túmulo dos grandes valores.”
Concordo integralmente com o saudoso educador.
Se quiseres ser reconhecido por todos os segmentos sociais do País --- com o auxílio da mídia, corra daqui, mesmo enfrentando, mais na frente, relativas dificuldades, sejam de que natureza for. Porque podem ser superadas pelo talento pessoal e o apoio inicial de alguns solidários humanistas que, no Ceará, vivem recolhidos ou com dificuldades.
O pintor Antônio Bandeira ( 1922 – 1967 ) somente foi reconhecido na Europa toda, a partir de Paris, onde moreu.. Só saiu do anonimato universal quando se mandou daqui.
O famoso, então boêmio inveterado, Francisco Domingos da Silva ( Chico da Silva ), se não fora reconhecido como um dos maiores pintores primitivistas do mundo, pela sensibilidade do adido cultural da embaixada francesa, Jean Pierre Chabloz, teria morrido de beber cachaça no Pirambu, onde morava e permanecido na escuridão.
Chabloz levou-o para a França, com algumas de suas peça fizeram uma festa com a participação dos paises europeus que a renda deu para comprar alimentos e matar a fome de milhares de excluídos nas casas de assistência social francesas.
Emiliano Queiroz ( 1936 ) e José Vilker (1944 – 2014 ) também tiveram de arrumar as malas e se mandar.
Nilo de Brito Firmeza --- o Estrigas --- ( 1919 – 2014 ) percorreu mundo com uma pedra no caminho, até que se alojou bem num sitio no Mondubim, onde ficou até o último suspiro.
Paulo Pontes ( 1940 – 1976 ) paraibano, dramaturno ator, autor, se mandou para o Rio de Janeiro. Ainda passou por Fortaleza.
No entanto, viu que a barra para a cultura estava muito dificil, prosseguiu viagem para a então Guanabara, somente com a rede e os chinelos. Na ex-capital da República, em 1964, escreveu o roteiro de estréia do show Opinião, interpretado por Paulo Gracindo
( 1911 _ 1995 ) e a mineira Clara Nunes (1942 – 1983 ) ---- A Guerreira. Paulo Pontes escreveu ainda “Brasileiro Profissão Esperança”
Ednardo ( 1945 ) – cantor e compositor - se mandou de seu torrão natal, São Benedito, Ficou em Fortaleza --- terra encantadora para quem está de passagem e acumula dinheiro --- mas foi imado pelo Centro-sul.
Desconfiando de que seu Pavão Misterioso poderia morrer de tédio, olhando para os pés, enjaulado no jardim do mau gosto da mediocridade social perfumada, foi embora. Lá fez sucesso.
Luis Carlos Barreto, o cobra do cinema brasileiro, fugiu da sua condição de fotógrafo de partida de futebol, em Fortaleza e vou fazer cinema com as melhores obras literária brasileiras. Entre as quais algumas de Jorge Amado.
Cirino ( 1950 ) foi no mesmo barco. Se mandou.
Teti e Rodger ( idade clandestina ) só ficaram mais tempo aqui, embora com olhos em Brasilia, na UNB, por conta do talento do Rodger, em física como educador, Mas, mesmo assim capinou uns anos no Centro-Sul.
Belchior ( 1946 ) mandou-se logo... E, a exemplo de Ednardo, brilhou cedo nas paradas de sucesso e no convívio inteligente das cabeças pensantes nacionais.
Aderbal Jr ( 1941 ). --- hoje Aderbal Freire --- depois de alguns sucessos , entre nós, sob a regência teatral do incomparável José Maria Bezerra de Paiva ( B. de Paiva ) ( 1932 ) foi para o Rio. Por algum tempo atravessou dificuldades. Mas, depois de apresentar sua grandeza teatral, ganhou a superlotação dos cariocas que lhe valeu dois dos maiores prêmios do palco brasileiro : “-O Moliêre”.
Renato Aragão --- ex-bancário em Fortaleza – escapou da burrocracia dos números --- e foi tornar-se o grande saltibanco do humorismo brasileiro, para agradar adultos e crianças nas grades da Rede Globo.
Há muitos que preferiram não sair do convivio cearense Guardaram para si e para seus sentimentos, o cabedal da riqueza criativa. Ou -- quem sabe ( ? ) --- para alguns netinhos.
Francisco Anisio de Oliveira Paula ( 1931 – 2012 ) --- Chico Anisio --- é um caso à parte. Embora tenha acompanhado, aos oito anos de idade, a sua mãe, a pianista Haydée de Viana Oliveira, para o Rio, onde ele estivesse seria o artista universal, com seus 209 personagem, em criatividade. Desde homem de teatro a espalhador de textos humoristicos
Chico Anisio, alem da qualidade de humanista inigualável, tinha um sentimento de solidariedade rara no mundo de hoje. Foi dono de uma empresa de táxis no próprio Rio de Janeiro. Sentindo que o taxista ganhava pouco, quase o insuficiente para sobreviver, deu a cada motorista um carro e saiu do ramo.
Vendo uma dúzia de artistas que fizeram muito sucesso, no passado, no rádio, no teatro e no inicio da televisão, mas, agora --- sempre em dificuldades ---sem emprego, criou na Rede Globo, onde gozava de elevado prestigio, a “Escolinha do Professor Raimundo”, para abrigar financeiramente os mais idosos.
Já o amigo-irmão, há 50 anos, Audifax Rios não teve saco de sair do Ceará, para desabotoar a camisa das oportunidades, em centros sociais mais sensíveis à criatividade humana. Seu mundo era Santana do Acaraú
Foi para outro Plano, Livrando-se, assim, dos hipócritas. Daqueles que o elogiavam, mas nunca compraram-lhe um peça de arte.. Outros estocam gratuitamente suas artes, para mais tarde faturarem. Agora, vai-se o homem, porém, pela leveza de talento e criatividade ele jamais morrerá da nossa mente. A sua chama não se apagará. Enquanto existir a marca de sua sensibilidade ocupando quadros ou paredes.
Audifax não fazia arte para o riso. Apenas exteriorizava a amargura de um mundo, em cuja “vida é uma causa perdida”.
Audifax nunca ligou em receber o que merecia.
O importante, agora, será que quem tiver seu acervo --- conseguido só na conversa --- leiloe-o e devolva a renda para a familia do artista. Em modesta morada há uma viúva, filhas, filho, netas, todos estudando..
Vai-se o homem fica a chama.
GP

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