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Precisamos organizar um choque de vanguardismo, diz Mangabeira Unger

Ministro-chefe da SAE aponta necessidade de impulso produtivista "includente"


Pamela Mascarenhas

Precisamos organizar um choque de vanguardismo, diz Mangabeira Unger


O ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, destacou em evento da FGV, no Rio, o novo momento do país, que deve se voltar para a produção e a oferta, e não mais apenas para a demanda e no consumo. Com isso, indicou, se faz necessário um choque de vanguardismo, para que o país conquiste produtividade, de fato. E este vanguardismo, continuou, se faz necessário não apenas em uma "ilha elitista".
"O foco agora é a democratização da economia do lado da oferta e da produção, organizar um impulso produtivista no país. Esse impulso só interessará se for includente, não adianta se for para beneficiar apenas uma minoria de endinheirados, ou mesmo de trabalhadores nos setores intensivos em capital. Tem que ser para todos. E essa estratégia para todos exige inovações institucionais", disse o ministro à imprensa.

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Durante o evento, realizado pela Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV/EPGE) e pela Escola de Direito do Rio de Janeiro (FGV Direito Rio), o ministro fez críticas à situação intelectual no Brasil, como à ciência econômica, indicando "defeitos da tradição da teoria econômica", que "não serve como base intelectual para pensar alternativas ao mercado". Para ele, que entrou em 2013 para a lista de intelectuais do ano da revista britânica "Prospect", a situação intelectual no país é adversa. "Precisamos revolucionar o pensamento", alertou, chamando a atenção para a urgência de "reformistas na política e revolucionários nas ideias".
Oferecendo um panorama do país nos últimos anos, Mangabeira Unger falou sobre o modelo baseado em produção e exportação de commodities e massificação do consumo da década passada, que gerou grandes resultados, resgatando milhões de brasileiros da pobreza extrema, mas que se esgotou, expondo suas fragilidades, como o baixo nível de produtividade dos empregos.
"Não há razão para criticar essa estratégia, ela fez sentido em certo tempo, e surtiu efeitos benéficos para milhões de brasileiros, sobretudo, com três efeitos. Primeiro, resgatou milhões de pessoas da pobreza extrema, segundo, manteve um altíssimo nível de emprego no país, com poucas comparações no mundo e, terceiro, facultou o acesso ao consumo em massa para a maioria do país. Mas, agora, que as circunstâncias mundiais mudaram, ficou claro que nós precisamos construir uma estratégia que permita uma escalada de produtividade no país. Portanto, o foco muda."
Chega o momento, então, do ajuste fiscal, que deve funcionar como uma ponte para um outro momento, necessário não para aumentar a confiança do mercado, como defende determinado debate em vigor no país, mas para justamente não depender da confiança financeira, salientou o ministro. "Ajuste fiscal não é agenda. É preliminar indispensável, como aliás a presidenta tem dito muitas vezes", disse Mangabeira à imprensa após o evento.
O eixo da nova estratégia, explicou, é organizar o crescimento econômico sobre a base de ampliação de capacitações educacionais e oportunidades econômicas, com enfoque na produção e na oferta e não mais apenas na demanda e no consumo. Essa nova estratégia tem três vertentes, a qualidade do ensino básico, que está "calamitosa", um produtivismo includente e propostas radicais para todas as regiões do país.

"Nós temos uma cultura empreendedora no Brasil vibrante, mas a verdade dura é que a grande maioria das nossas pequenas e médias empresas ainda está afundada num primitivismo produtivo, com práticas e tecnologias relativamente retrógradas. Nós precisamos agora organizar um choque de vanguardismo. Não é ter vanguardismo só dentro de uma ilha elitista, é usar o poder do Estado para difundir as práticas avançadas para grandes setores da economia", ressaltou.
"O Brasil tem vitalidade, tem um espontaneísmo inculto. Agora nós queremos dar a essa vitalidade instrumentos e oportunidades. Nós queremos transformar espontaneísmo inculto em flexibilidade preparada", anunciou.
Questionado sobre quando esse novo Brasil seria possível, esclareceu: "Isso não é um amontado de ações tecnocráticas, não é como construir uma usina, e dizer 'vamos terminar em tal data', não é isso. É lançar uma dinâmica transformadora. E o importante não é o prazo de terminar, ninguém pode saber o prazo de terminar. Importante é o prazo de começar. É ter iniciativas que representem os primeiros passos da transformação."

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