Macário,
ZÉ DIOGO E BIRICA
A canoa partiu para alto mar. Desta vez não levou Zé, levou
seu amor. Zé Diogo me conta de suas viagens de Jericoacoara a Camocim. Até
passageiros levava, trazia mercadorias variadas. Nunca esqueceu Birica nas suas
navegações. Ela fez parte de sua vida por 64 anos.
Toda à tarde no Beco do Ismael era certo ver a “pareja”
sentadinha no banco improvisado a frente de sua casa. Sempre de passagem pela
vila, jamais deixei de ver essa cena. Participei muito dessas conversas com Zé
Diogo aos olhos atentos de Birica em tudo. Falava pouco, mas quando falava era
pronto e ponto.
Na minha última ida a Jeri, vi Birica enferma. Ela escutou
minha voz e mandou me chamar. Fui, na certeza que era a despedida. Deitada, frágil
e de fala mansa disse algo. Juro por tudo que não escutei nada.
Mas entendi tudo!
A canoa partiu na primeira maré de sábado, véspera de dias das
mães. Ela escolheu a data exclusiva para pescar o grande peixe divino. Birica
deixou um enorme legado de luta, paixão pela terra, sua casa, seu beco, sua
gente- 6 filhos, 20 netos, 16 bisnetos e um tataraneto.
Não sei como ficara aquele banco improvisado vazio, sem ela,
sua postura de firmeza e amor por Seu Zé Diogo, o pescador que todos os dias
mesmo sem pescar, tem que ver o mar.
Comandante Genario Peixoto Lins Junior
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