Brejo Santo tem a rede educacional municipal mais eficiente do Brasil;
reportagem já saiu na revista Veja
A repórter Bianca Bibiano esteve em Brejo Santo para falar, exclusivamente, com o prefeito Guilherme Landim, professores, alunos, pais de alunos e o povo
A revista Veja desta semana traz reportagem sobre a educação
brasileira. É o projeto Prefeito Nota 10, que destaque Brejo Santo como a
melhor rede municipal de ensino, uma orgulho não só para o Cariri, como para
todo o Ceará e o Nordeste. A revista lembra que era um fracasso a qualidade do
ensino no município até 2009, quando o prefeito Guilherme Landim assumiu o
primeiro mandato. Leia, abaixo, a íntegra da matéria, que pode ser lida online.
A revista chega nas bancas nesta segunda-feira, dia 20 de abril.
Cidade educadora - A qualidade do ensino depende menos de
Brasília do que de prefeitos comprometidos: com base nessa premissa, um novo
prêmio destaca os municípios que promoveram avanços extraordinários em sua rede
de escolas. O primeiro vencedor é Brejo Santo, no Ceará.
Localizada aos pés da Chapada do Araripe, a 521 quilômetros
de Fortaleza, Brejo Santo é uma cidade bem brasileira. Com pouco menos de
50 000 habitantes, situação de quase 90% dos municípios do país, ela ostenta
IDH pouco inferior à média nacional e renda por habitante quase 70% menor.
Poderia repetir também os péssimos resultados da educação brasileira, mas vem
conseguindo escapar ao destino. No Ideb de 2013, índice do governo federal que
combina taxas de evasão e repetência com desempenho escolar no nível
fundamental, a cidade exibe nota 7,2 - a média brasileira é 5,2.
Em uma das unidades locais de ensino, a Escola Maria Leite
de Araujo, a presença de galinhas no pátio de terra batida não permite
suspeitar de uma nota invejável: 9,2. O curioso é que, até 2009, a cidade
cearense era ainda mais parecida com o Brasil. Cerca de 70% dos alunos não
aprendiam o esperado em português e matemática. De lá para cá, a rede de ensino
vem registrando avanços seguidos. Em 2013, finalmente, virou o jogo: 72% dos
estudantes do 5º ano atingiram o patamar adequado de aprendizagem em matemática,
por exemplo, taxa que chegou a impressionantes 100% na Maria Leite de Araujo. O
índice brasileiro é 32%.
O que faz da cidade uma referência de qualidade é uma
política pouco pautada por invencionices e muito apoiada em eficiência,
meritocracia e equidade. No dia a dia, isso se traduz em práticas eficazes em
sala de aula, avaliação e premiação de professores e garantia de que todos os
alunos recebem o mesmo ensino. "Coloquei a educação no centro do meu
projeto político, porque sei que isso terá impacto nos demais setores na vida
local", explica o prefeito Guilherme Sampaio Landim (PSB). Pelo serviço, o
jovem médico de 29 anos receberá na semana que vem, em cerimônia em São Paulo,
o Prêmio Prefeito Nota 10, promovido pela primeira vez pelo Instituto Alfa e Beto
(IAB). O prefeito vencedor ganha 200 000 reais.
O objetivo do Prefeito Nota 10 é identificar a rede
municipal de ensino com melhor desempenho na Prova Brasil, exame federal que
avalia estudantes de 5º e 9º anos do ensino público e que compõe o Ideb. Concorriam
ao prêmio somente cidades com mais de 20 000 habitantes em que ao menos 80% dos
alunos tivessem participado da Prova Brasil. Desses, 70% tinham de provar que
sabiam o que se esperava deles. Nenhuma cidade, nem mesmo Brejo Santo,
preencheu esse último critério. O IAB chegou então a doze municípios com
resultados destacados e apontou os melhores em cada região do Brasil. Na Região
Norte, infelizmente, nenhum município atingiu os índices necessários.
Reconhecendo a cidade com melhor média, o prêmio retira dos
holofotes administrações que mantêm escolas-modelo, mas não replicam a
qualidade desses centros de excelência em toda a rede. "A qualidade do
ensino de nossas crianças depende menos de Brasília do que de municípios e de
prefeitos comprometidos", diz o educador João Batista Araujo e Oliveira,
presidente do IAB. De fato: 54,7% dos quase 30 milhões de alunos do ensino
fundamental brasileiro estudam em unidades municipais. "O prêmio quer
identificar quem consegue fazer um grande trabalho em escala, levando qualidade
a todas as escolas que administra", acrescenta Oliveira.
A receita de Brejo Santo não tem lugar para ingredientes
exóticos. "Fazemos feijão com arroz benfeito todos os dias", diz Ana
Jacqueline Braga Mendes, secretária de Educação. O cardápio inclui regras
rígidas para alunos e professores. Os 11 771 estudantes têm dever de casa. Se
um deles falta, a escola entra em contato com sua família. "Isso reduziu
drasticamente o abandono", diz a secretária. O prefeito também mexeu em leis
e recorreu a medidas inicialmente consideradas impopulares.
Unidades que mantinham as chamadas classes multisseriadas,
em cujos bancos se sentavam lado a lado crianças de 7 a 12 anos, foram
fechadas, e os alunos, transferidos para locais mais distantes, porém estruturados.
Professores, por sua vez, passaram a ser avaliados, e aqueles que não
demonstraram bons resultados foram retirados das salas de aula: parte foi
demitida, parte assumiu funções administrativas. Com os melhores em sala de
aula, a prefeitura aumentou os salários. O piso inicial é de 2 673 reais,
diante do salário mínimo de 1 917,78 reais estabelecido pelo Ministério da
Educação.
Brejo Santo faz um grande trabalho. Porém, há muito que
avançar. Embora mantenha a melhor rede municipal do país, a cidade ainda não
chegou ao marco de 70% das crianças com conhecimento adequado à série em que
estudam. O caminho, no entanto, está traçado.
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