Melhor idade
Pedro e Maria Silva, ambos quase oitentões, resolveram fazer uma viagem
turística de navio pelo Caribe. Embarcaram num avião em São Paulo e
viajaram até Miami. Durante quase 12 horas passaram momentos
desconfortáveis na classe econômica. Os pés dos dois incharam, as pernas
ficaram dormentes e as costas doidas. Chegando, apanharam as malas com
dificuldade e se dirigiram ao porto onde estava o belo barco de 12
andares. "Seu" Pedro já estava zangado e afim de desistir de navegar
durante 4 dias. Porém, dona Maria, apesar do cansaço, o convenceu a
continuar com a programação. Entraram num navio extravagantemente
decorado (predominavam as cores vermelha e preta e as luzes eram
douradas e prateadas). Outros casais, também de idade, andavam com
dificuldade de um lado para o outro, os jovens se abraçavam de forma
sensual e as crianças corriam nos corredores e brincavam nos elevadores.
A movimentação era grande. "Seu" Pedro pensou em desistir mais uma vez,
no entanto o navio já estava singrando o mar caribenho. Ufa! Terá que
suportar. Dona Maria, acalmava o marido e resolveram descansar um pouco
na cabine. Isso não é programa, alardeava o nervoso Pedro. Chegou o
momento do lanche vespertino. A fila era enorme, todos com fome. A
comissária de bordo olhando para o casal brasileiro, falou: nossas
pesquisas constatam, de forma unânime, que a melhor idade é uma beleza,
venham à frente. "Seu" Pedro respondeu agitado: minha filha, segundo
Nelson Rodrigues, "Toda unanimidade é burra". O casal da enganosa melhor
idade enfrentou 4 dias de sofrimento. Assim é a vida.
Gonzaga Mota
Professor, escritor e ex-governador do Ceará. E meu amigo.
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