Lisos e...felizes

Para brasileiros em Manhattan, a moda agora é só olhar vitrines

Julia Leite e Paula Sambo
(Bloomberg) - Os efeitos da desvalorização da moeda brasileira são facilmente perceptíveis nas ruas de Nova York.
Ao sair da loja B&H EM Manhattan no fim de semana passado, a Tábata Bandez disse que estava acompanhando com nervosismo a queda do real pelo telefone e que desistiu dos planos de comprar um computador para levar para o Rio de Janeiro.
Alguns dias antes, a família Gaião tirava muitas fotos em frente ao Rockefeller Center, mas comprava pouco. Na Apple Store da Quinta Avenida, Cláudia Tavares decidiu consertar o iPhone do enteado, ao invés de obter o modelo mais novo.
"Dessa vez precisa fazer a conversão e ver se vale a pena", disse Tavares, 51, que mora em Santos, enquanto esperava na fila.
No dia seguinte à chegada para uma estadia de 10 dias, ela e uma amiga, que estão se hospedando com as filhas em um flat, pois os hotéis eram caros demais, foram A Target para comprar alimentos e algumas "tranqueiras". Essa era uma das poucas compras que elas planejavam fazer, disse ela.
A farra turística do Brasil, que durou dez anos, está acabando.
Mesmo antes de o real ter caído outros 15% em relação ao dólar neste ano --parte de uma desvalorização de 36% em dois anos que levou a moeda ao seu menor valor em 12 anos na semana passada--, os brasileiros já estavam diminuindo os gastos em viagens ao exterior. No quarto trimestre, eles gastaram 8% menos do que no ano anterior, a maior queda trimestral desde 2009.

Viagem paga

É possível que mais quedas estejam por vir. O Goldman Sachs Group Inc. prevê que o real poderia cair outros 10% nos próximos 12 meses e o Standard Chartered Bank diz que a moeda poderia despencar outros 15% até o fim do ano enquanto a presidente Dilma Rousseff está lutando para sustentar a cambaleante economia e ganhar de volta a confiança dos investidores nas finanças de seu governo, ao mesmo tempo em que tenta acalmar os protestos que eclodiram nas ruas devido a um escândalo de corrupção cada vez mais abrangente.
A velocidade em que o real despencou pegou de surpresa alguns turistas. Tavares comprou dólares a R$ 3,10 poucos dias depois de sua amiga, Maria Ester de Barros, ter pago R$ 2,99. O real, que chegou até a R$ 3,31 por dólar na sexta-feira, estava cerca de 15 por cento mais forte quando elas reservaram as passagens de avião.
"A viagem estava paga, então viemos", disse Barros. "Mas não para comprar".

Exceção?

Os brasileiros, é claro, não são os únicos estrangeiros a descobrir que, de repente, têm menos poder aquisitivo nos EUA.
O dólar está disparando em relação à maioria das moedas do mundo, como resultado do plano do federal reserve, banco central norte-americano, para começar a aumentar as taxas de juros neste ano.
A coroa dinamarquesa, o euro, a coroa sueca e o dólar canadense perderam mais de 7% frente à moeda americana. O Bloomberg Dollar Spot Index, que acompanha o dólar na comparação com 10 moedas de importância, subiu 4,7%  neste ano.
Mas a queda do real se destaca.

'Tortura'

Mesmo depois de ter registrado uma recuperação de 5% durante os dois últimos dias, a queda deste ano ainda é a pior entre as 31 moedas mais negociadas frente ao dólar.
Em Manhattan, Bandez disse que era uma "tortura" acompanhar a desvalorização da moeda dia após dia. No fim da viagem de oito dias, ela tinha comprado pouco mais do que alguns itens pequenos ("cremes e vitaminas") para os parentes.
"Eu olhava todos os dias e tinha vontade de chorar", disse ela, em referência à cotação do real. Ela pagou mais de R$ 3,30 por dólar. "Eu vim mais com a ideia de visitar a cidade do que de comprar. Foi basicamente isso que eu fiz".

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