Papa Xico mistura estação, diz o Noblat

Francisco volta a misturar Estado com Religião

E derrapa ao tentar se corrigir
Ricardo Noblat
Corrigir uma tolice que se nos escapou pode ser pior do que a tolice propriamente dita. Ou impropriamente dita.
A mais recente vítima disso foi o Papa Francisco, talvez a personalidade mais marcante deste início de novo século.
Na última quinta-feira, durante uma viagem do Sri Lanka às Filipinas, Francisco foi indagado por jornalistas sobre o massacre no jornal francês Charlie Hebdo, onde morreram 12 pessoas.
De início, ele repudiou o uso da religião para justificar atrocidades. Em seguida, derrapou ao se dizer capaz de esmurrar um auxiliar caso ele ofendesse sua mãe com um palavrão.
Novamente derrapou quando quis ir mais longe:
- Dou esse exemplo para mostrar que na liberdade de expressão há limites.
De volta a Roma, ontem, em conversa com jornalistas, Francisco se empenhou em corrigir o estrago. Foi pior.
- Em teoria podemos dizer que uma reação violenta a uma ofensa, a uma provocação, não é aceitável, não é uma coisa boa. Temos de fazer o que o Evangelho diz, devemos oferecer a outra face. Em teoria podemos dizer que entendemos o que é a liberdade de expressão. Em teoria, todos concordamos. Mas somos humanos. E há a prudência, que é uma virtude da coexistência humana. Eu não posso insultar ou provocar alguém continuamente sob o risco de deixá-lo bravo, sob o risco de receber uma reação injusta.
E arremeteu:
- O que estou dizendo é que a liberdade de expressão precisa levar em conta a natureza humana e isso significa que precisa ser prudente. Prudência é a virtude humana que regula nossos relacionamentos. Uma reação violenta é sempre ruim (...) É por isso que a liberdade deve andar sempre de mãos dadas com a prudência.
E se no legítimo uso do direito à liberdade de expressão eu for imprudente? Eu ofender uma religião?
Mereço ser agredido ou morto? Ou não deveria correr tal risco renunciando ao direito de me expressar livremente?
Nos países onde Estado e Religião não se misturam, não é crime algum criticar as religiões. É o caso da França, por exemplo. E o do Brasil também.
Qualquer líder religioso que se sinta ofendido pelo o que eu disser sobre a religião dele tem o direito de me processar. Caberá à Justiça conferir-lhe razão ou não.
No Vaticano, o menor país do mundo, o Papa é o chefe da Igreja e ao mesmo tempo do Estado. Daí – quem sabe? – a mistura que Francisco faz de Estado com religião.
A mesma mistura que fez no último fim de semana o primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu. Ele disse:
- A liberdade de expressão não significa a liberdade de insultar.
Pode significar, sim senhor. A punição de um eventual crime de insulto é que não pode significar uma agressão contra a vida de ninguém.
Papa Francisco (Foto: Divulgação)Papa Francisco (Imagem: Divulgação)

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