Opinião


Pedro Luiz Rodrigues
O desafio de Levy

No início de 2011, quando a presidente Dilma Rousseff apenas começava a aquecer a cadeira presidencial, estávamos todos convencidos de que a economia brasileira – que fechara 2010 com um crescimento de 7,5% – estava entrando em um novo ciclo de prosperidade.
Pelo menos tudo sugeria que nos encaminharíamos nessa direção. Os economistas mais respeitados, encabeçados pelo ex-ministro Delfim Netto, acreditavam que não haveria percalços nessa trajetória. Caberia ao governo apenas manter a política econômica de Lula – herdada do governo FHC -, com o mesmo tipo de política baseada em equilíbrio fiscal, um Banco Central autônomo, metas de inflação e câmbio flutuante.
Ajustes? OK, aqui e ali talvez se fizesse necessário um aperto de parafusos, mas o fundamental era que houvesse um inequívoco compromisso do governo com o equilíbrio fiscal, possibilitando ao Banco Central abrir caminho para a  redução das taxas de juros e dos juros reais no Brasil.
O segredo, na verdade um verdadeiro segredo de Polichinelo, pois é conhecido de todos os estudantes de economia do primeiro ano, é que ajuste fiscal não significa aumentar indefinidamente a arrecadação. Esse é o elixir dos charlatãos, cujo resultado é a asfixia e, eventualmente, a morte, do paciente.
Gente séria sabe que a verdadeira solução implica no estabelecimento de mecanismos que permitam uma coisa (simplíssima para se entender, complicadíssima para se aplicar): que as despesas do governo cresçam em patamares inferiores ao PIB, estimulando a poupança interna e abrindo espaço para mais investimentos.
Se assim tivesse sido feito desde 2011 (ano em que a presidente preferiu decidiu examinar pessoalmente cada papel, cada relatório produzido pela gigantesca máquina governamental) o equilíbrio fiscal teria sido alcançado, assegurando uma relativa estabilidade da atividade econômica e do emprego, indispensáveis para a coesão social e um mais suave ambiente político.
Mas nos anos do primeiro governo Dilma, a coisa toda se barafundou. Em parte devido à perda do impulso externo  (redução das altas taxas de crescimento da China), mas também pela desmontagem do tripé e sua substituição por um emaranhado de idiotices desencontradas, o País se desorganizou, com resultados sobejamente conhecidos:  PIB com crescimento médio anual (2011-2014) de irrisórios 0,6%; inflação no limite do descontrole; uma significativa deterioração ds situação fiscal (com o déficit chegando a 5% do PIB) e tendência persistência ao aumento da relação dívida bruta/PIB, isso para não falar no desequilíbrio acentuado em nossas contas correntes.
O ministro Joaquim Levy foi convidado para o cargo para tentar por ordem no cabaré. A condição fundamental para seu sucesso está em que a presidente Dilma assuma o que não quis assumir em seu primeiro mandato: absoluta compromisso do governo com o equilíbrio fiscal. Exatamente o oposto do que desejam todos os políticos do PT e de sua base aliada.
Um primeiro passo já deu o ministro, na forma das reformas em benefícios trabalhistas e previdências que encaminhou ao Congresso e que devem trazer aos cofres públicos uma economia de 18 bilhões de reais ainda este ano.

Pedro Rodrigues é emnbaixador e jornalista e é meu amigo.

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