O cano que a Petrobras deu ao Ceará


Beto Studart: foi “mentira política”
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Beto Studart, concedeu uma entrevista coletiva, na tarde de ontem, classificando como uma grande decepção e uma mentira política, o anúncio da desistência da Petrobras de levar adiante o projeto da Refinaria Premium II na região do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Isto porque, após vários anos de promessas, alterações da data de início das obras, inúmeras reuniões com o empresariado cearense e o governo do Estado, a companhia simplesmente anunciou, anteontem, que não vai mais construir as unidades de refino que estavam previstas para o Ceará (Pecém) e Maranhão (Bacabeira).
Ele disse que a situação que o Ceará está vivenciando, neste momento, com a desistência da Petrobras de construir este grande empreendimento industrial, deixou milhares de pessoas extremamente decepcionadas, pois a refinaria era um sonho, há anos, dos cearenses. “Acho que traz à tona a mentira política. Para mim, esta desistência já estava na cabeça deles há muito tempo. Foi um fato político para ter votos, num determinado momento, garantindo uma posição de cunho nacional. Você tem 15 anos alimentando este projeto, bota a máquina para funcionar, faz terraplenagem, acaba eleição, tira a máquina. Então parece que estava, realmente, sabendo que não ia fazer. Hoje vejo, que a gestão da Petrobras é totalmente irresponsável. Acabaram com uma grande instituição nacional, que era um símbolo brasileiro, que nós admirávamos. Diminuíram 70% de seu valor em quatro anos, está aí um verdadeiro descalábrio de corrupção dentro da companhia. Não sabem quanto tem a pagar, a própria presidente (Graça Foster) falou que não sabe o tamanho do rombo, então a gestão dela está totalmente equivocada. Hoje, vemos os cearenses decepcionados, tristes, o governo do Estado também muito triste, porque investiu somas importantes, R$ 650 milhões, é o que falam. Então a gente fica decepcionado. Se a gente fala em sonho, acho que é o sonho dos cearenses que foi embora”, asseverou Beto Studart.
O presidente da Fiec também destacou o sentimento dos governantes cearenses, que estavam muito empolgados com a construção da refinaria e, agora, viram boa parte de seus esforços e suas expectativas sendo sepultadas com esta decisão da Petrobras. “Fico imaginando como estarão o Cid Gomes, que alimentou tanta esperança em cima desse projeto, e o Camilo Santana, que estava alimentando também um grande sonho, a mudança do perfil do nosso PIB (Produto Interno Bruto), levantando em torno de 40% a 45% de seu valor, como a Companhia Siderúrgica do Pecém também está aí para fazer o Ceará mudar de patamar. Então, fica aí a nossa decepção, da Federação das Indústrias, todos nós industriais, o povo cearense, muito decepcionados com este fato”, lamentou.

ALTERNATIVA
Ao ser questionado se haveria uma alternativa de a iniciativa privada ser um caminho para vir a ser parceira da Petrobras, ele destacou que com o preço que vem sendo praticado pelo barril de petróleo no mercado internacional, muda totalmente o humor dos investimentos nesta área. “Mas dos outros. O nosso já tinha um planejamento, uma pesquisa, já estava tudo elaborado. A gente atrair uma nova unidade pelo mundo afora, acho extremamente difícil. Temos de continuar buscando novos investimentos, junto com o governo do Estado, que está imbuído do melhor propósito. O problema e o sucesso desta ação, de buscar estas alternativas, é que o cenário nacional não oferece confiança aos investidores brasileiros e internacionais. O capital internacional, para vir para cá, precisa ter um cenário extremamente tranquilo, coerente, mas estamos vendo um Brasil que está desarrumado”, destacou Beto Studart.
E ressaltou que não está passando uma visão pessimista, nem querendo provocar desestímulo no meio empresarial, mas que é preciso realizar uma série de ações, para mudar esta imagem do Brasil. “Somos um País gerador de déficit, que está na iminência de iniciar um processo de inflação, com estagnação dos nossos negócios, uma redução do PIB. Então, o nosso cenário não é bom. Da mesma forma que eu enxergo, outros industriais enxergam, a comunidade internacional enxerga e sabe fazer essa leitura. Então, todo este caminho quer o governo federal, por intermédio do ministro Joaquim Levy está querendo adotar, é extremamente correto, onde nós brasileiros vamos pagar a conta. No entanto, cabe ao governo, ao Executivo, mostrar para a comunidade internacional que isso é uma situação longeva, que vai dar condições para que as pessoas possam voltar a acreditar no Brasil. Se não houver crença, não há trabalho de atração que possa ter sucesso”, enfatizou o presidente da Fiec.

GESTOR DA CNDL
Quem corrobora com a opinião do presidente da Fiec, afirmando que o governo federal tem que acertar muitas coisas que tem de errado, uma delas a suspensão da refinaria do Ceará, foi o empresário Honório Pinheiro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Entretanto, acredita que essa questão pode ser revertida em outro momento, mas ainda no governo Dilma. “Na verdade, todos nós, cearenses, perdemos muito com essa negativa, sendo que o Brasil também perde com essa situação”, explicou. Sem falar em nomes, disse que muita gente lucrou com a promessa da refinaria para o Ceará, “sendo que políticos foram eleitos e reeleitos, uma realidade que envergonha a todos que andam na linha”, asseverou. O empresário acredita que a obra não está de todo perdida e que o governo, possivelmente de Dilma Rousseff, ainda vai encontrar o momento para colocá-la em prática.

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