O discurso de despedida do Padre Zé na Câmara dos Deputados

Segue, abaixo, o nosso pronunciamento de despedida da Câmara dos Deputados - A luta, no entanto, não cessa!!!
O Sr. JOSÉ LINHARES (PP-CE) pronuncia o seguinte discurso: 
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, a nossa vida transcorre através de ciclos. Após um determinado curso de anos, encetamos um novo ciclo. Após 24 anos, estou prestes a iniciar um novo ciclo. 
No já longínquo ano de 1991, obedecendo eu um mandato do povo cearense, adentrava neste novo cenário da vida pública para um mandato que foi repetido por seis vezes consecutivas. Frise-se que aqui cheguei como Deputado Federal mais bem votado do meu querido Ceará.
Nesta Casa, pude aprender muito com meus pares e compartilhar os ideais e propósitos que me motivaram a dedicar intenso trabalho em prol dos brasileiros e, em especial, ao povo sofrido do meu Estado natal.
Exerci meus mandatos com a consciência de que havia sido eleito para mais uma entrega pessoal, a exemplo de outro momento da minha vida, quando, ainda jovem, abracei a vida sacerdotal. Na Igreja ou neste Parlamento, acatei os desígnios que me foram concedidos por Deus, sem reserva, entregando-me, com entusiasmo, a esta nova missão, renunciando, sem ressentimento, a todo o lazer, a todo privilégio que a vida privada nos proporciona. Encerro esta jornada com a mesma certeza e com a mesma experiência expressas pelo Papa emérito Bento XVI, que, em seu discurso de despedida, disse que “recebemos a vida exatamente quando a doamos”.
Sou grato por tudo o que vivi em todos esses anos nesta Casa. Sou grato, primeiramente, a Deus, que jamais me faltou, que me concedeu saúde, luz e discernimento para encarar a empreitada. Sou grato ao povo da minha querida Sobral e de todo o Ceará, que depositou em mim sua confiança e suas esperanças, para fazer ressoar a voz de cidadãos sofridos e buscar alento para suas vicissitudes. Não posso deixar de agradecer a todos os que estiveram ao meu lado, trabalhando para que a minha missão fosse desempenhada da melhor forma possível, no meu gabinete, no âmbito partidário ou nas ruas, onde buscamos, a todo o tempo, nosso estímulo e energia.
Carrego comigo uma grande satisfação: a de ter colocado todos os últimos 24 anos a serviço de causas essenciais para a melhoria das condições de vida de inúmeros brasileiros, como a defesa e valorização das Santas Casas de Misericórdia e hospitais filantrópicos do País.
Em um de meus primeiros pronunciamentos neste Plenário, em 1991, enfatizei a importância dessas entidades para a ingente tarefa de assistir aos doentes. Com o apoio de outros parlamentares e com uma profícua interação com a Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas (CMB), a Confederação Internacional das Misericórdias e com os governos, conseguimos fomentar o aprimoramento da qualidade da assistência que tais organismos se propõem a prestar, visando sempre ao bem-estar da sociedade. Além disso, obtivemos importantes êxitos na criação de condições para o desenvolvimento técnico-científico da assistência médico-hospitalar às populações de baixa renda, cobertas pelo Sistema Único de Saúde.
A luta, no entanto, não cessa. As Santas Casas e hospitais filantrópicos estão com dívidas altíssimas – reflexo da crise que aflige a saúde pública no País. Responsáveis pelo atendimento a mais da metade dos pacientes do SUS, essas entidades não vêm recebendo do poder público a justa contrapartida pela dimensão e qualidade dos serviços que prestam.
Deixo a Câmara, Senhor Presidente, com fé renovada nos parlamentares que chegam e nos que aqui continuarão perseverando na defesa de nossas Santas Casas.
Senhoras e Senhores Deputados, nosso País passou por profundas transformações nos últimos 24 anos. Neste Plenário, pude acompanhar e participar de momentos históricos, que, notoriamente, ajudaram a fortalecer nossa democracia e a soberania nacional. Entrei nesta Casa como integrante do Congresso Revisor; vivenciei as turbulências econômicas e políticas do Governo Collor; convivi com um Congresso reagindo aos “Anões do Orçamento”. Em muitas ocasiões, reagimos, com CPI’s, a desmandos que enxovalham nossas estruturas sociais e econômicas. Assisti a várias votações, que puniram deputados que derivaram de seus deveres cívicos. 
Mas, assisti também votações de matérias que acabavam com privilégios, suprimiam deslizes, atualizavam códigos, resgatavam a cidadania dos brasileiros, privilegiando o direito dos oprimidos.
Neste Congresso aprendi o direito ao contraditório, embate de ideias, ao convívio com a justiça, com o direito, com o bem comum.
É certo que nem tudo é correto, que há causas esdrúxulas defendidas, que certo corporativismo quer por vezes prevalecer, que cartéis se incorporam a determinadas decisões, mas também é certo que após lutas titânicas prevalecem quase sempre, o que é correto, o que norteia os direitos do cidadão brasileiro.
Assisti à construção e implantação do Plano Real, que estabilizou e estabeleceu novos paradigmas para nossa economia; vi o Brasil pobre e miserável recobrar suas esperanças de prosperidade, quando, livre do fantasma da inflação, pôde receber mais atenção do Estado, por meio de políticas sociais que melhoraram a vida de milhões de brasileiros, principalmente no Norte e no Nordeste.
Todas essas fases da nossa história recente geraram efeitos diretos nas atividades desenvolvidas no Parlamento. Para cada medida estrutural ou reformista dos governos que se sucederam, um incontável número de proposições, debates e manifestações foi suscitado nas instâncias do Congresso Nacional.
O registro de minha atuação está consolidado nos diários e arquivos, para confirmar que busquei ser consistente e proativo em minhas iniciativas. Tentei honrar a reiterada confiança dos meus eleitores e fazer reverberar a voz dos sobralenses e de todo o povo do Ceará.
O sistema informatizado da Câmara dos Deputados lista quase 400 intervenções minhas neste Plenário, bem como 614 proposições em que figuro como autor, dentre as quais 32 projetos de lei e 134 pareceres a matérias de outros deputados.
Despeço-me, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, com a sensação de dever cumprido e com a satisfação que preenche a alma daqueles que se dedicam a servir. Mas a messe é grande e o trabalho não finda. Nesta instância, fui um servo do povo brasileiro. Seguirei, agora, por outros caminhos, mas sem perder a minha visão de fé e a convicção de que o Senhor Deus nunca nos abandona. Muitas obras ainda havemos de fazer!
A todos o meu abraço e meus sinceros agradecimentos.

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