Welington faz reflexão sobre o significado do sentimento gratidão
O deputado Welington
Landim (Pros) em pronunciamento no primeiro expediente da sessão
plenária desta quinta-feira (18/12), aproveitou o período de final
de ano e Natal para fazer uma reflexão sobre o significado da
palavra gratidão e seu oposto, a ingratidão. O parlamentar afirmou
que a gratidão “é o mais difícil, e, por isso mesmo, o mais
louvável dos procedimentos do homem”.
Veja a íntegra
do pronunciamento para reflexão:
Sr.
Presidente,
Nestes
tempos natalinos, tão propícios à manifestação dos sentimentos
superiores, pensei em me pronunciar sobre uma virtude fundamental
para a sublimidade da alma humana. Falo do sentimento da GRATIDÃO, o
mais difícil e, por isso mesmo, o mais louvável dos procedimentos
do homem.
Somos
feitos do barro dos mistérios. Vasta é a imensidão insondável de
nossa natureza. Muitos não se conhecem a si mesmos e, quando
tentamos conhecer os outros, a dificuldade se aprofunda, tornando
praticamente impossível se saber o que habita o coração do
próximo.
Ninguém
pode mensurar até onde pode ir a capacidade alheia de surpreender ao
impulso das emoções, nos frementes territórios do ódio, da
inveja, do ciúme, da necessidade, da dúvida, da insegurança e da
paixão desvairada.
Os
antigos persas, na prática de sua religião, conhecida como
MASDEÍSMO, já dividiam o homem em CORPO e ALMA, cabendo a matéria
a Arimã, representando o diabo, e o espírito a Masda, que era o
bem.
Arimã,
ao receber sua parte, reclamou que estavam lhe entregando a parte
perecível do ser, o corpo que, com o passar dos dias, iria
envelhecer, adoecer e findar e que, somente herdaria a alma dos que
se perdessem e fossem condenados à Geena, ao fogo do inferno.
Enquanto
isso, Masda ficava com a parte infinita e imortal do homem, a alma
dos bons perenizada pela eternidade e com eles iria repartir o
convívio sereno e agradável dos céus.
Masda,
entretanto, argumentou que ao diabo cabia a melhor parte, sim. Porque
o exército dos maus é infinitamente maior que o dos virtuosos e os
prazeres da carne sempre foram mais fáceis e mais sedutores do que a
decência, a bondade e a integridade moral.
Estavam
certos os persas em sua teologia. Pecar é muito mais gostoso do que
se praticar a continência. Conter-se diante do apelo atraente da
ambição, do fascínio banal do orgulho, dos chamativos da traição
é muito mais difícil e somente as almas grandes podem ser
encontradas nas terras luminosas da virtude.
Agradecer
é um verbo raro e de difícil aplicação. E a história está
povoada de ingratos e de suas perfídias.
Júlio
César, o mais brilhante dos generais romanos, adotou um rapaz
chamado Caio Brutus. Deu-lhe a condição de filho predileto. Fez
dele senador da República, cumulou-o de riquezas e de prestígio
político.
Um dia,
naquele ano 44 antes de Cristo, Júlio César, ao entrar no Senado
para supostamente receber uma homenagem, foi atacado por
conspiradores e por eles cruelmente apunhalado logo na entrada do
Capitólio.
Pois bem:
cercado por seus assassinos numa roda da morte, viu seu filho, de
costas, na cena do crime e, já combalido pelas muitas facadas que
recebera, procurou o amparo do ombro de Brutus para junto do filho e
sustentado por ele terminar sua gloriosa vida.
Foi,
entretanto, surpreendido pela ação do filho desnaturado que,
virando-se, vibrou contra ele a última punhalada, deixando,
inclusive, o punhal encravado no corpo já tantas vezes ferido de seu
benfeitor.
Júlio
César ainda teve forças para, acariciando o rosto pusilânime de
seu filho, murmurar, naquele que é considerado o momento mais
terrível e dramático da decepção humana: “ATÉ TU, BRUTUS, MEU
FILHO”!
Senhoras
e senhores deputados:
A
ingratidão é o lodo da alma humana. Os ingratos são criaturas
encontradiças na prática nebulosa da sordidez, no vale sombrio dos
desonestos, nos caminhos mais torpes da cavilação, do adulamento e
da mentira.
Cospem no
prato que comeram e apedrejam a mão que lhe amparou.
Como bem
descreveu o poeta Augusto dos Anjos em soneto famoso:
“Vês,
ninguém assistiu ao formidável
enterro
de tua última quimera
somente a
INGRATIDÃO, essa pantera,
foi a tua
companheira inseparável.
Acostuma-te
à lama que te espera!
O homem,
que nesta vida miserável
vive
entre feras, sente inevitável
vontade
de também ser fera.
Toma um
fósforo, acende o teu cigarro que o beijo amigo é a véspera do
escarro
e a mão
que afaga é a mesma que apedreja.
E se
alguém causa ainda pena à tua chaga
apedreja
essa mão vil que te afaga
escarra
nessa boca que te beija.”
No
capítulo 17 do Evangelho de São Lucas está relatado que Jesus, ao
entrar numa aldeia, foram-lhe ao encontro dez homens leprosos,
gritando: “Mestre, tem misericórdia de nós!”.
Ele,
então, disse para eles: “Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes.”
E
aconteceu que indo eles notaram pelo caminho que haviam ficado
limpos. E um deles, vendo que estava são, voltou glorificando a Deus
em voz alta e dando graças ao Rabi da Galiléia.
Mas Jesus
perguntou: “Não foram dez, os curados? Onde estão os outros
nove?!”
Esta
história bíblica é muito eloquente quando identifica a prática
singular da gratidão e mostra a preponderância do número dos
ingratos.
Receber é
muito mais fácil do que devolver. Porque, como dizia Aristóteles,
“a gratidão é o sentimento que mais depressa envelhece.”
Na
atividade pública nos encontramos diariamente com os
mal-agradecidos.
Eles são
melífluos e cavilosos na procura do apoio, na reivindicação do
benefício.
Mas são
muito esquecidos para agradecer. Não podemos negar que alguns nunca
esquecem o favor recebido, a graça solicitada.
Esses são
os altaneiros, os arautos da lealdade, os puros de coração, os
amigos com quem podemos contar sempre e, se não existissem, a
humanidade estaria irremediavelmente perdida e destruída a
civilização.
Mas,
quantas vezes nos defrontamos com aqueles que, na hora da aflição e
do sufoco, buscam com ansiedade o ombro amigo. E, ao receber o
conforto, o calor e o amparo cobiçado, jogam no nosso rosto que não
nos devem nada e o nosso apoio pouco contribuiu para o objetivo
cobiçado.
Uma das
principais características do caráter mesquinho dos ingratos é
DESQUALIFICAR A CONTRIBUIÇÃO RECEBIDA, minimizando a participação
e a ajuda que, antes, era alegadamente essencial.
O sabor
da conquista, que às vezes é tão passageiro, anula as essências
que contribuíram para a prazerosa degustação. Os temperos, os
elementos químicos que produziram a fórmula mágica do prazer do
prato apetitoso.
Ivan
Turgueniev, um escritor russo, diz que “ao homem podem ser
perdoados todas as violações da ordem e do comportamento: o ódio,
a preguiça, a negligência, a vaidade, a petulância, o roubo, o
assassinato. São deslizes que todos podem cometer. Mas há um
cometimento que enegrece em definitivo o homem e coloca o seu
praticante numa categoria irremediavelmente inferior: é a
INGRATIDÃO. Porque os ingratos são como bichos, os ingratos não
tem alma”.
Minhas
senhores, meus senhores,
Dezembro
é um tempo de paz e serenidade. Um tempo de concórdia.
Os sinos
de natal reanimam os nossos sonhos e acalantam as nossas esperanças
de uma vida melhor com mais amor, mais alegria, mais ética, mais
justiça social, conforto espiritual, equilíbrio e prosperidade.
Desejo
que o novo ano que está chegando nos traga um país melhor, mais
afirmativo em seu desenvolvimento, mais verdadeiro nas promessas de
seus dirigentes, mais livre em seus parlamentos, mais justo em seus
tribunais.
E, para
terminar, fiel ao tema de nosso pronunciamento, quero deixar para a
meditação de todos nós o pensamento de Isaak Walter, um escritor
inglês do século XVII:
“DEUS
TEM DUAS MORADIAS: UMA, NOS CÉUS;
A OUTRA,
NO CORAÇÃO DOS QUE TÊM GRATIDÃO.”
Muito
obrigado e um Feliz Natal a todos!
Deputado
Welington Landim
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