Histórias do Jaguar


Jaguar: Tim na parada

O dia em que Tim Maia, de quem sou macaca de auditório, não deu entrevista ao Pasquim

O Dia
Rio - De repente, só dá Tim Maia. Acho ótimo porque, escandalizai-vos gente fina, sempre fui fã ou, como dizia o Chacrinha, macaca de auditório. Primeiro foi o livro e o musical (que não li nem vi mas gostei) do imprescindível Nelsinho. Nelsinho não, Nelson Motta, que por esses dias virou um venerando jovem de 70 anos. Agora, apareceu novo livro e filme que não li, nem vi, mas gostei. Não queria ficar de fora dessa nova onda de Tim Maia. Tenho no meu currículo duas entrevistas com ele. Uma foi feita e a outra não. Seguinte: em 1970, quando teve seu primeiro disco nas paradas o Pasquim resolveu entrevistá-lo. O jornaleco, fundado em 1969, logo depois do golpe militar, estava bombando: a primeira tiragem foi de 10.000 exemplares e, quando convidamos o Tim Maia, para o número 70 estava 5 vezes maior.
Havia um problema: ele, como era ainda desconhecido, não segurava uma entrevista sozinho. Resolvemos chamar Rita Lee, que também estava despontando. Eram muito jovens: ela 21, ele 27 anos. Participaram Sergio Cabral, Flávio Rangel, Marta Alencar, Luiz Carlos Maciel e Fortuna. Destaco alguns trechos: “Antes de ir para os Estados Unidos em 57 eu ouvia Little Richards, Luiz Gonzaga e os Cariocas. Aprendi a cantar realmente nos Estados Unidos... Lá fiz de tudo: limpei cocô de velho, eles pagavam 31 dólares por semana, tinha casa e comida, tomava conta de 11 velhos, o mais novo com 94 anos. Tinha um que me falava de Shakespeare... Compositores que eu gosto mais atualmente são Cassiano, Ivan Lins e Marcos Vale... Tom Jobim é bom demais... Eu nem me comparo nem nada... Gosto também de Rolling Stones e Steve Wonder”. A segunda entrevista não houve: mais tarde, super famoso, marcamos na casa dele na Gávea.
Era um apartamento em um prédio antigo, com um enorme saguão, com colunas de mármore, parecendo um cine teatro. O porteiro anunciou nossa chegada e Tim pediu que aguardássemos. Esperamos literalmente sentados em enormes poltronas. O tempo foi passando e nada de Tim Maia. Uma hora depois reclamamos com o porteiro: fomos informados que ele não iria nos receber e que era para irmos embora. A explicação: Tim desceu, e escondido atrás de uma coluna do saguão, cismou que um careca (eu) de óculos era agente da Delegacia de Entorpecentes disfarçado para realizar uma diligência em busca de flagrante. Resultado: a “não entrevista” foi muito mais Tim Maia do que a entrevista.

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