Opinião


E se...? Por Marli Gonçalves
Todo mundo se pergunta um monte de coisas, disso tenho certeza, mesmo que sejam inconfessas algumas dessas dúvidas, medos, anseios e angústias. Algumas dúvidas existenciais; outras, cotidianas. Outras, aterrorizantes; muitas, apenas pueris. Outras, engraçadas ou apenas curiosas, de curiosidade. Elas até podem ser divididas por temas. Ou não. Elas vão chegando, vão saindo, uma puxa a outra. Pior é que nenhuma tem uma resposta precisa. Tudo começou quando...

Eu me perguntei: - E se a água acabar?

E se o ebola ficar descontrolado? E se aparecer outra epidemia, pior, mutante? E se a febre chikunguya não for controlada e se mostrar ainda pior do que a dengue já é? E se o plano não cobrir?

Aí o alarme disparou, de vez. Vocês podem chamar do que quiserem, nóia, envelhescência, insegurança, bad trip. Só que a cascatinha de perguntas é bem razoável. Pior, real. "Mais pior" ainda: possível. E você, nunca se perguntou nada?

E se você amasse sem esperar nada? E se cada vez que alguém começa com a frase "falando a verdade" estivesse pronto a mentir? E se as pessoas acharem que não vale a pena? E se a língua portuguesa continuar a ser assassinada?

E se a gente perder? E se as pesquisas estiverem totalmente erradas? E se a pesquisa não for verdade? E se a gente descobrir que não há verdade absoluta, nem mal que nunca se acabe?

E se as drogas forem legalizadas? E se esses radicais se multiplicarem? E se o PCC conseguir abrir filiais e tomar conta de tudo? E se eles derem um Salve Geral? E se a geração nem-nem ganhar poder?

E se nos dividirmos ainda mais? E se as redes sociais enjoarem? E se os jornais forem superados? E se as emissoras forem todas alugadas para as igrejas? E se a gente for obrigado a rezar?

E se acabar a nossa paciência? E se houver revolta? E se o dólar subir mais ainda? E se eles resolverem se vingar? E se proibirem tudo? E se os Felicianos e Levis da vida derem cria sem usar o aparelho excretor? E se eles continuarem mentindo? E se os de sempre não pararem de nos roubar? E se a Justiça continuar cega e meio surda? E se a censura piorar? E se resolverem proibir? E se ficar mais caro?

E se a gente for obrigado a andar de bicicleta? E se a gente precisar usar máscaras? E se o ar secar igual à água? E se a chuva for tóxica? E se o mar resolver crescer e inundar?

E se acabarem todas as abelhas? E se as borboletas resolverem sumir também? E se derrubarem as florestas? E se lotearem o Pantanal?

E se continuarem chamando negros de macacos pelo mundo afora? E se continuarem fazendo das mulheres cidadãs de segunda classe? E se nossas crianças continuarem sofrendo o diabo na mão de malditos? E se for pior do que se imaginou?

E se a situação da China esquentar? E se as religiões produzirem legiões de fanáticos loucos por guerras e destruição? E se eles estiverem blefando? E se a internet acabar isolando as pessoas? Se todos os povos quiserem ocupar alguma praça? E se as polícias reagirem com bombas? E se o efeito moral for devastador?

E se virar moda delatar? E se deletar for mais fácil do que debater? E se a boca de sino voltar? E se a pochete mostrar que é prática? E se voltar a moda hippie? E se for liberado o topless? E se proibirem chinelos de dedo?

E se acabar a gasolina? E se continuarem a beber tanto álcool? E se proibirem os calmantes? E se tiver de ser assim?

E se empatar? E se perder? E se for pior do que se imaginou? E se tiverem ensinado errado? E se a gente se arrepender?

E se tiver trânsito? E se a gente atrasar? E se a greve for geral? E se não der para ir? E se o pneu furar? E se o ônibus não passar? E se outro avião cair? E se o relógio parar? E se estiver estragado? E se não entregarem o que prometeram?

E se você se perder dele? E se ele se perder de você? E se não tiver tempo?

E se quiserem acabar com a minha espontaneidade?

Bem, aí eu vou espernear. Já que, para muitas destas outras perguntas, só resta mesmo coçar a cabeça e dizer um bom e sonoro palavrão, conformado: - "Ih! F..."
São Paulo. E se fosse Rio de Janeiro? Brasília? 2014


Marli Gonçalves é jornalista - - Profissão boa para quem está sempre perguntando, querendo saber. E se fosse psicóloga, o que, acreditem, quase rolou?

Nenhum comentário:

Postar um comentário