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memória da ditadura

Exército espionou movimento negro no Rio e na Bahia


 O Exército brasileiro espionou ações e integrantes do movimento negro na Bahia e no Rio, em 1979, já no governo Geisel, que promoveu a redemocratização no país. Documento produzido em 25 de outubro de 1979, pelo Serviço Reservado d IV Exército, de Salvador, classifica como subversivas reuniões do movimento negro naquela capital, além de listar os nomes dos líderes e de simpatizantes. O Exército concluiu que o movimento negro passou a ser usado pela oposição, com a infiltração comunista, no Rio e na Bahia, a partir de 1978.
A informação está na coluna de Ancelmo Gois deste domingo. Uma das pessoas espionadas pelo Exército foi Abdias Nascimento (1914-2011), que na ocasião era professor da Universidade de Nova York, como afirmou o documento produzido pela 2ª Seção do Exército. Abdias participou de seminários organizados por entidades de defesa dos negros na Bahia. Os papéis foram encaminhados ao Serviço Nacional de Informações (SNI), que à época centralizava todos as agências de espionagem política do regime militar, além do Centro de Informações do Exército (CIE) e do DOI (Destacamento de Operações de Informações) do IV Exército, que era sediado em Salvador.

O documento do Exército cita os nomes das seguintes pessoas apontadas como sendo líderes do movimento negro, engajado numa frente de contestação do regime militar: o sociólogo José Lino Alves de Almeida (198-2006), Ashton José Reis de Alcântara e Leib Carteado Crescêncio dos Santos, entre outros. Foram citados também o senador Rômulo Almeida (1914-1988) e o ex-deputado Marcelo Cordeiro, que foi secretário-geral da Assembleia Constituinte de 1986.

No documento, os espiões da ditadura detectaram o que consideraram um plano de incentivar a criação do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, com o objetivo de esvaziar o 13 de maio, quando foi assinada a libertação dos escravos. Segundo o documento, o movimento negro, por meio de reuniões e seminários, tentava derrubar o mito da democracia racial brasileira, e acrescentou ainda que "a análise do "problema do negro" (aspas para o texto do Exército) procura adaptar-se à crítica marxista da sociedade brasileira". Um dos temas abordados na reuniões foi motivo de destaque no documento: a denúncia de que havia maior proporção de negros do que brancos nas penitenciárias brasileiras. O SNI havia acabado de descobrir a pólvora.

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