Se é pra continuar melhorando, pra que trocar?


Projeto de Aécio para o Nordeste cheira a Lula

Josias de Souza
Numa tentativa de seduzir o eleitor nordestino, Aécio Neves lançou o projeto ‘Nordeste Forte’. Contém 45 ações em sete setores. A peça exala um cheiro de Lula. Inclui programas sociais e obras que marcaram a administração do ex-presidente petista. São iniciativas que ajudaram a reeleger Lula, em 2006, e impulsionaram a eleição de Dilma Rousseff, em 2010.
Escorada novamente no padrinho, Dilma continua desfrutando de enorme prestígio entre os nordestinos. Na região Nordeste, a afilhada de Lula prevalece sobre Aécio nas pesquisas com um placar esmagador: 55% contra 15%, segundo o Datafolha. O tucanato não tem a pretensão de reverter o quadro. Mas se esforça para atenuá-lo. Daí o anúncio do projeto, feito em Salvador, neste sábado.
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Campanha presidencial 2014 

A candidata à Presidência pelo PSB, Marina Silva, faz primeiro ato de campanha nas ruas desde que foi confirmada como substituta de Eduardo Campos, morto em uma acidente aéreo. Ela participou de uma caminhada no bairro de Casa Amarela, na zona norte do Recife (PE), neste sábado (23). Marina estava acompanhada do candidato do PSB a governador de Pernambuco, Paulo Câmara, seu vice Beto Albuquerque (os dois à dir. de Marina); e o candidato ao senado pelo PSB, Fernando Bezerra (segundo à esq. de Marina) .
Para combater a pobreza, Aécio assegura que manterá o Bolsa Família, carro chefe das administrações petistas na área social. Acena com a conversão do programa em “política de Estado”. E promete elevar a renda per capita das famílias nordestinas para US$ 1,25 por dia. Em reais, isso corresponde a algo como R$ 2,85 por dia. Ou R$ 85,50 por mês —cifra superior aos R$ 70 pagos sob Dilma.
No papel, o objetivo declarado de Aécio é o de proporcionar às famílias nordestinas uma renda per capita domiciliar correspondente a 70% da média nacional. Isso num intervalo de dez anos. Se fosse eleito em 2014 e reeleito em 2018, Aécio seria presidente da República por oito anos.
Aécio usou a propaganda eleitoral veiculada no rádio e na tevê neste sábado para reforçar seu compromisso com a manutenção do Bolsa Familia (assista abaixo). Disse que o programa garante dinheiro às famílias “no presente”. Para assegurar o “futuro”, prometeu instituir outro programa, também mencionado no pacote para o Nordeste.
Chama-se “Poupança Jovem”. Segundo Aécio, foi criado por ele quando governou Minas Gerais. Prevê a abertura de contas de poupança para os alunos do ensino médio. Os que tiverem boas notas, receberão depósitos anuais de R$ 1 mil. Que só poderão ser sacados depois de três anos.
Sem mencionar a cifra, Aécio diz na propaganda que o jovem beneficiário poderá usar o dinheiro “para iniciar uma nova etapa na sua vida ou mesmo para começar um pequeno negócio.” Tudo isso com R$ 3 mil.
Além da poupança, o ‘Nordeste Forte’ informa no capítulo dedicado à “juventude” que Aécio vai “manter e ampliar” dois programas criados sob Lula —o Prouni e o Fies— e até uma iniciativa regulamentada por Dilma em 2011, primeiro ano do atual mandato: o programa Ciência Sem Fronteiras.
Para melhorar a “qualidade de vida” da população do Nordeste, o plano de Aécio anota que será “ampliado” o programa Minha Casa, Minha Vida —outra iniciativa nascida sob Lula, trombeteada na propaganda de Dilma na sucessão de 2010 e alardeada novamente no horário eleitoral deste ano.
Na área de infraestrutura, o projeto de Aécio prevê oito ações. Entre elas um par de ferrovias que Lula usou para colocar a primeira candidatura de Dilma nos trilhos: a Ferrovia Transnordestina e a Ferrovia Oeste-Leste. Para resolver o problema crônico da falta d’água no semiárido nordestino, Aécio assume o compromisso de concluir a Transposição do Rio São Francisco, outro canteiro de obras que Lula abriu, explorou politicamente à farta e o governo não consegue entregar.
As obras encampadas por Aécio podem ser encontradas também no horário eleitoral de Dilma. Elas aparecem nas peças do marqueteiro João Santana sempre no gerúndio: estão em andamento, estão avançando. Um eleitor que esteja irritado com a protelação eterna talvez busque alternativas.
Fixando-se em Aécio, encontrará um candidato disposto a “concluir” obras, além de “manter”, “aprofundar” e “melhorar” programas . Um pedaço do eleitorado descontente talvez enxergue o presidenciável tucano como um gestor responsável, capaz de dar continuidade a iniciativas alheias. Mas também haverá eleitor se perguntando: se é para aperfeiçoar o já iniciado, trocar para quê?

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