Senador pede que militares se desculpem pelas tortura, mas ministro silencia
Ministro Amorim não tem coragem de repudiar tortura no regime militar
Cristovam pegou uma folha e escreveu, de punho, o seguinte bilhete:
“Caro amigo e ministro Celso Amorim, A matéria abaixo, com o forte relato da jornalista Míriam Leitão, exige um reconhecimento e pedido de desculpas por parte das Forças Armadas. Nenhum soldado de hoje pode ser acusado de responsabilidade por fatos do passado, mas serão responsabilizados por esconderem os fatos, o que também macula a história, ferida por escondida. O silêncio é uma conivência e cumplicidade. Abraço, Cristovam”
O senador reproduziu a seguir a reportagem onde Míriam contava detalhes da tortura sofrida por três meses num quartel do Exército em Vila Velha, ES, no final de 1973. Lá, apesar de grávida e com apenas 19 anos, Míriam foi golpeada, ameaçada de estupro e fuzilamento e aterrorizada com uma jiboia trazida pelo coronel Paulo Malhães, o temido Dr. Pablo do DOI-CODI.
Cristovam pegou o bilhete e a cópia do depoimento e mandou por fax, ainda na terça-feira, ao ministro da Defesa.
Na manhã de hoje, pouco antes das 10h, tocou o telefone do senador. Era Amorim:
— Cristovam, li o depoimento da Míriam ontem mesmo. Fiquei impactado. Liguei ontem mesmo para a Míriam, uma amiga que conheço há 40 anos. Eu sei das coisas que precisam ser ditas, mas tenho algumas limitações — reconheceu o ministro-chefe dos comandantes militares.
Amorim convidou o senador para ir ao seu gabinete, para tomar um café e conversar.
Cristovam decidiu ir para a tribuna, semana que vem, para um discurso sobre o depoimento que tanto o comoveu.
O senador dirá uma frase que o Diário do Poder antecipa:
— Os militares usam coturnos para pisar na lama dos campos de batalha na defesa da Pátria, não para pisar na lama da História, escondendo a tortura perpetrada por uma geração anterior de militares e políticos.
Penso eu -Pior é que tem canalha que diz que não houve tortura na ditadura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário