Quem nasceu pra cangalha nunca chega a sela



Usuários do Terminal de Integração do Antônio Bezerra, em Fortaleza, diariamente, arriscam-se ao atravessar de uma plataforma para outra sem utilizar o túnel construído na reforma do equipamento (entregue em janeiro) para esta finalidade. Muitos passageiros passam encolhidos entre as grades, que são colocadas justamente para coibir essa travessia irregular. A maior reclamação dos usuários é a insegurança no túnel, que não conta com policiamento local. Diante disso, muitos passageiros alegam que preferem correr o risco de serem atropelados.
“Não gosto do túnel por ser perigoso e cansativo. A rampa é muito comprida e como eu ando com criança é mais complicado, perco muito tempo, então eu sempre pulo as grades. É melhor como era antigamente”, reclamou a dona de casa Rafaele da Costa. O mecânico Icaro Caoma foi assaltado há um mês quando usou o túnel para fazer a travessia. “Cinco homens me abordaram e levaram meu celular. Não pude fazer nada. Procurei policiamento, mas não achei”. A partir desse dia, Icaro conta que não usa mais o túnel. “Fiquei com o psicológico abalado. Com isso, fico sem opção. Se passar por baixo, corro o risco de ser assaltado e se atravessar por cima, posso ser atropelado pelos ônibus”.
REPARO NAS GRADES
Enquanto a equipe do jornal O Estado esteve ontem no local, em determinado momento, um fiscal da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) foi até a grade e lacrou um espaço que possibilitava a passagem dos pedestres entre elas. “Frequentemente, fechamos com arame, mas logo vem uma pessoa e retira o arame”, disse o agente que não quis se identificar.
Com o arame lacrando o local, a costureira Marlene da Silva disse que foi o jeito ter que usar o túnel. “Sempre procuro uma brecha entre as grades para atravessar e não ter que passar pelo túnel. Como eles fecharam, agora vou pelo túnel correndo. Aqui é esquisito em qualquer horário”, afirmou.  
Conforme a Assessoria de Comunicação da Etufor, o túnel não é considerado pelo órgão um local inseguro, já que por conta de sua estrutura (com saída para dentro do Terminal) qualquer pessoa que cometa (ou tente cometer) algo na passagem ficaria encurralada.
Em relação à abordagem das pessoas que insistem em atravessar entre os coletivos, passando pelas grades, a Etufor informa que a própria barreira física (grades) já “avisa” sobre o impedimento e que os fiscais do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) e da Etufor orientam sobre a travessia correta. Porém, ressaltou que não há campanhas educativas para uso do túnel nem abordagens específicas quando ocorrem situações do tipo.

ACESSIBILIDADE
A vendedora e cadeirante, July Lima, utiliza o Terminal do Antônio Bezerra todos os dias para ir aos treinos de basquete. Ela elogia a acessibilidade do local, mas critica alguns pontos. “O túnel está bem feito e acessível, mas para cadeirantes é ruim quando tem uma ladeira muito comprida como é a daqui. Não é todo cadeirante que consegue subir, pois é cansativo e é preciso ter força. Assim, eu prefiro como era antes”.
SEGURANÇA
Um guarda municipal, que trabalha no Terminal e não quis se identificar, contou que é comum a ocorrência de pequenos furtos, que é habitual ver pessoas utilizando drogas no Terminal e que, à noite a sensação de insegurança aumenta. “É complicada a atuação da Guarda Municipal nesses locais, pois não podemos colocar nossa vida em risco. Não usamos armas, nossos coletes à prova de bala estão vencidos desde maio e não temos condições de atender a todas as ocorrências já que somos poucos se compararmos à quantidade de pessoas que utilizam o lugar”.
Ele disse ainda que, nos dias de jogos, a situação piora. As torcidas utilizam os túneis, há brigas entre eles e isso assusta os passageiros. “Já presenciei vários casos, mas ficamos de mãos atadas”, declarou.
A Assessoria da Guarda Municipal informou que a média é de quatro servidores atuando no Terminal por turno, além de contar com o auxílio do Ronda do Quarteirão que é acionado em casos mais complexos. Sobre os coletes, a Guarda Municipal disse que concluiu o processo licitatório, assim como o de outros equipamentos de proteção individual como máscaras contra gases, caneleiras, capacetes antitumulto, algemas, tonfas e coletes refletivos, e está aguardando apenas o empenho para o pagamento.
Túnel é fechado às 22h por MEDIDA DE segurança
O chefe da Divisão de Operações da Etufor, Raimundo Rodrigues, afirmou que o túnel é fechado às 22 horas, por medida de segurança. “Nesse horário, diminui o número de pessoas circulando, a quantidade de ônibus e o túnel é fechado por prevenção já que a demanda é pequena na área. A medida evita que as pessoas se aproveitem do momento para praticar pequenos crimes”.
Para que os usuários façam a travessia, Raimundo acrescentou que, neste momento, as grades, localizadas no meio das plataformas, são liberadas para o tráfego dos passageiros.
Sobre o número de ocorrências registradas no Terminal, o chefe da Divisão informou que, ultimamente, não há nenhum registro. “No local, há policiamento e a Guarda Municipal. No túnel, tem os boxes que vendem lanches e isso aumentou a circulação. Se estiver acontecendo furtos é porque as pessoas não estão registrando e nem repassando a informação para nós. Não têm chegado reclamações para nós”, contou. Raimundo Rodrigues acrescentou que a outra parte do Terminal, que inclui uma plataforma, outro túnel, estacionamentos, bilheteria e banheiros, deverá ser entregue entre o final de agosto e início de setembro.
 

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