Obama e o atoleiro ucraniano
Mauro Santayana
O
fracasso do cessar-fogo na Ucrânia fez novas vítimas, ontem. Segundo a
emissora Lifenews, em um ataque a um ônibus, morreram o chofer e uma
passageira; um soldado ucraniano foi atingido por um fraco-atirador em
Tarani, pero de Donetsk. Combatentes pró-russos explodiram a torre de
uma emissora de televisão, no Monte Karachun, na região de Sloviansk,
dois jornalistas russos foram feridos em um ataque com morteiros em
Izvarino e o governo ucraniano denunciou o sequestro da jornalista
Anastasia Stanko, e do camera Ilia Bezkorovaini, do canal de televisão
Kiev Gromadske. Também na tarde de ontem, combatentes pró-russos, usando
um tanque de guerra, retomaram o edifício da sede do Ministério do
Interior ucraniano em Donetsk, após uma batalha de cinco horas, que
deixou ao menos um morto, do lado das tropas ucranianas.
Enquanto
Vladimir Putin criticava, em declaração à imprensa, a decisão do
presidente ucraniano, Petro Petroshenko, de romper unilateralmente o
cessar-fogo, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha,
Frank-Walter Steinmeier, anunciou que se reunirá ontem, quarta-feira,
com seus colegas da França, Rússia e Ucrânia, para analisar a escalada
do conflito.
A França, pelo menos com relação à Rússia, está em
melhor condição de negociação. Paris acaba de receber, em seu
território, 400 marinheiros russos, que serão treinados pela Marinha
francesa para a operação de dois modernos navios de assalto da classe
Mistral, encomendados há três anos por Moscou, e que serão entregues nos
próximos meses.
A França acaba de receber 400 marinheiros russos para a operação de dois modernos navios de assalto
Os
Estados Unidos pressionaram, inutilmente, a França para que não
entregasse os barcos, mas os franceses, com uma atitude que tenta
delimitar o alcance da influência norte-americana em sua política
externa, e em respeito ao compromisso assumido com os russos — Hollande
teria também que pagar pesada multa — recusaram-se a fazê-lo.
Antes
do rompimento do cessar-fogo, a Rússia tinha proposto o monitoramento
conjunto de postos na fronteira russo-ucraniana, com a participação de
autoridades russas, de soldados ucranianos e da OSCE (Organização para a
Cooperação e a Segurança da Europa), em um mais um gesto de boa
vontade.
No auge da crise, depois da anexação da Crimeia,
Moscou, no lugar de fortalecer suas posições ao longo da fronteira,
retirou suas tropas, que estavam estacionadas perto do oeste da
Ucrânia, e levou-as de volta ao interior de seu território.
Ao
tentar cortar os laços históricos que ligam a Ucrânia — e boa parte de
sua população — à Rússia, os Estados Unidos e parte dos países da Otan
mergulharam o mundo em um novo conflito, que pode ter início como uma
guerra civil, ou transformar-se, depois, em guerra aberta entre os dois
países, com a participação indireta de potências ocidentais.
O
comportamento de Petroshenko, e a complacência dos EUA diante do
rompimento do cessar-fogo, mostram quem são os verdadeiros responsáveis
pelo atoleiro ucraniano.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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