Os EUA, Putin e a queda do avião malaio
Mauro Santayana
Despachos
urgentes de agências internacionais dão conta da queda de um avião
Boieng 777, da Malaysia Airlines, que saiu ontem, às 12h15, hora local,
do aeroporto de Amsterdã, na Holanda, com destino a Kuala Lampur,
capital malaia.
A queda da aeronave, que levava 295 pessoas, nas
imediações de Krasni Luch, perto de Shaktarsk, em território ucraniano,
próximo da fronteira com a Rússia, ocorre em um momento em que —
coincidentemente? — boa parte da opinião pública mundial ainda tem a sua
atenção voltada para a tragédia do misterioso desaparecimento, sem
deixar pistas, de um avião do mesmo modelo, e da mesma companhia, sobre o
Oceano Índico, em 8 de março deste ano, com 223 passageiros, entre
eles, 150 cidadãos chineses, a bordo.
Segundo agências de
notícias ocidentais, o acidente ocorreu em território controlado por
separatistas de etnia russa, que foram imediatamente acusados, pelo
governo ucraniano, de terem derrubado o avião, usando mísseis terra-ar.
Em
conversa telefônica, anteriormente agendada, com o presidente Obama,
dos EUA, o presidente russo, Vladimir Putin, negou peremptoriamente essa
possibilidade, também desmentida pelo líder dos separatistas do Leste
da Ucrânia, Alexander Borodai.
Como o avião se encontrava a dez
mil metros de altura, ele só poderia ser abatido, teoricamente, por
mísseis de uma bateria antiaérea, e não pelos projéteis portáteis
usados, normalmente, pelos combatentes independentistas da região, que
têm entre 3 e 4 mil metros de alcance.
É preciso desconfiar das versões apresentadas pelas autoridades do atual governo ucraniano
Afastada
a hipótese da explosão de uma bomba a bordo, e em caso de confirmação
de que a queda do avião malaio — que contava com 15 cidadãos
norte-americanos entre seus passageiros — foi provocada pelo disparo de
um míssil, é preciso desconfiar das versões apressadamente apresentadas
pelas autoridades do atual governo ucraniano.
É estranho que o
incidente aconteça justamente depois da recente derrubada de um avião
militar da Ucrânia, por rebeldes separatistas, e quando os Estados
Unidos estão anunciando novas sanções contra a Rússia.
E isso, em
um momento em que o presidente Vladimir Putin acaba de colher
importantes vitórias diplomáticas, junto com o seu colega chinês, Xi
Jinping, em périplo pela América Latina, no contexto da Cúpula dos Brics
de Fortaleza, e do lançamento do Novo Banco de Desenvolvimento e do
Fundo de Reservas do grupo.
Considerando-se a permeabilidade da
vasta fronteira que separa a Rússia e a Ucrânia, e os estreitos
contatos na área de defesa — incluindo a fabricação de armamentos — que
existiam entre os dois países, desde os tempos da antiga União
Soviética, seria fácil, para qualquer uma das partes em confronto,
derrubar uma aeronave usando um foguete ar-ar de origem russa
disparado de outro avião, hipótese que está sendo investigada, com base
em informações de satélites, tanto por Washington como Moscou neste
momento.
É preciso não esquecer que, quando da queda de
Yanukovich, teoricamente precipitada por disparos feitos por policiais
contra manifestantes da Praça Maidan, correu a versão, ainda não
totalmente desmentida, ou devidamente esclarecida, de que os tiros
teriam partido, na verdade, de franco-atiradores ligados a facções da
extrema-direita neonazista ucraniana, com a intenção de jogar a opinião
pública contra o governo que estava no poder em Kiev até fevereiro deste
ano.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo
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